Sociedade

Aumento da pobreza infantil em Portugal "é dramático"

Pobreza infantil aumentou em Portugal Global Imagens/Arquivo

O sociólogo Renato Carmo considerou, esta terça-feira, "dramático" para Portugal que "cerca de um quarto das crianças e jovens" esteja em risco de pobreza, com o aumento deste fenómeno nas famílias com dois ou mais filhos.

"Recentemente,estamos a verificar que a pobreza está a aumentar nas famílias quetêm dependentes, nomeadamente mais de dois, ou nas famíliasmonoparentais", o que "tem reflexo na pobreza infantil",disse, aludindo a indicadores estatísticos recentes.

Quanto àpobreza infantil, indicou, "cerca de um quarto da populaçãoaté aos 17 anos está em risco de pobreza", sendo estapercentagem ainda mais elevada numa análise da linha de pobrezaancorada ao ano de 2009, um cenário já avaliado pelo InstitutoNacional de Estatística (INE).

"Alinha de pobreza é sempre relativa ao rendimento do ano e à medianado rendimento disponível do ano em causa. Portanto, tendo em conta2009, em que a mediana era maior, 30% das crianças está atualmentenuma situação abaixo da linha de pobreza", enfatizou.

RenatoCarmo, do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e doObservatório das Desigualdades, falava à agência Lusa à margem doVIII Congresso Português de Sociologia, a decorrer na Universidadede Évora (UÉ), até quarta-feira.

No âmbitoda mesa-redonda "Formas de Pobreza em Contexto de Crise",em que foi orador, o sociólogo disse que este incremento da pobrezainfantil é "dramático" para Portugal, sobretudo no atualquadro demográfico do país.

"Numpaís que está a perder população ativa, que está a envelhecer etem grandes problemas do ponto de vista da renovação geracional,verificamos que parte considerável das crianças vive em pobreza",realçou.

O aumentoda pobreza, sobretudo nestas famílias com mais de dois filhos,explica-se "em grande medida, pelo desemprego", afirmouRenato Carmo, lembrando que, entre 2008 e 2012, o país "perdeumais de meio milhão de empregos".

"Orendimento decresce e isso tem implicações nas famílias maisextensas, em que é necessário haver uma maior distribuição dorendimento. Portanto, neste momento, o que nós estamos a assistir éao aumento da pobreza em famílias que têm crianças, ou seja, napobreza infantil", frisou.

Portugalé, pois, segundo o sociólogo, um país "em morte lenta",a qual "está a acelerar".

"Istonão é sustentável. O futuro do país está gravemente ameaçado",alertou, defendendo a necessidade de "respostas mais sistémicas"por parte do Estado e de "uma nova geração de medidas sociais,pensadas para os jovens e crianças".

Comocontraponto positivo, em Portugal, verifica-se que "o risco depobreza na população mais idosa está a diminuir", graças às"políticas sociais direcionadas, e bem, ao longo dos últimosanos", para essa faixa populacional.

"Eisso tem a ver com esse incremento de rendimento", o qual,"provavelmente, pode até não ser suficiente em muitos casos,mas aconteceu", disse, aludindo a indicadores estatísticosrecentes.

Redação