Política

Cavaco Silva questiona os que falaram em "segundo resgate"

O presidente da República lembrou, esta segunda-feira, as "afirmações perentórias" de agentes políticos, comentadores e analistas de que Portugal não conseguiria evitar um segundo resgate, questionando o que dirão agora que foi anunciada uma "saída limpa".

"Oque mais me vem à memória, no dia de hoje, são as afirmaçõesperentórias de agentes políticos, comentadores e analistas,nacionais e estrangeiros ainda há menos de seis meses, de quePortugal não conseguiria evitar um segundo resgate. O que dizemagora?", questiona o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, num'post' publicado na sua página na rede social Facebook.

CavacoSilva acrescenta que "é apenas isto" que responde a todosque pedem uma reação sua ao anúncio feito no domingo peloprimeiro-ministro de que Portugal não recorrerá a qualquer programacautelar e recomenda "a leitura integral - e não truncada - doprefácio" que escreveu em março para o Roteiros VIII, disponível no 'site' da Presidência da República.

Noprefácio do "Roteiros VIII", que tinha como tema o'pós-troika', o presidente da República defendeu que uma decisãosobre um eventual programa cautelar deveria ser tomada "nomomento adequado", "evitando alaridos precipitados", etendo em conta a evolução dos mercados, da situação internacionale o sentimento dos parceiros europeus.

"Agora,há que, evitando alaridos precipitados, acompanhar cuidadosamente aevolução dos mercados e da situação económica e financeirainternacional e perscrutar o sentimento dos nossos parceiros europeuspara, no momento adequado, tomar a melhor decisão quanto ao caminhoa seguir: uma saída 'à irlandesa' ou um programa cautelar",escreveu o chefe de Estado.

Num'capítulo' dedicado ao "regresso ao mercado da dívidapública", o presidente da República sublinhou que "emtermos gerais, para um país que conclua com sucesso um programa deassistência financeira, é possível que um programa cautelar sejapreferível a uma saída dita 'à irlandesa'".

"Ficandointeiramente à mercê da volatilidade e das contingências típicasdos mercados, um país pode incorrer em custos de regressãoelevados, sobretudo se as principais forças políticas nãorevelarem uma firme convicção no sentido de garantir, de formaconcertada e a médio prazo, uma trajetória de sustentabilidade dasfinanças públicas e a prossecução de uma política de reformaspara a melhoria da competitividade das empresas", sustentou opresidente da República no terceiro 'capítulo' do texto inicial do"Roteiros VIII", que reúne as intervenções do presidenteda República ao longo do oitavo ano do seu mandato.

Reconhecendoque o acesso aos mercados de financiamento externo dependerá do graude confiança dos investidores da capacidade do país reembolsar, nomédio e no longo prazo, os empréstimos contraídos, Cavaco Silvaadvertiu que uma multiplicidade de fatores irá influenciar o riscoatribuído à dívida pública portuguesa, como o crescimentopotencial da economia, o saldo da balança externa, o cumprimento dasregras europeias de disciplina orçamental, a solidez do sistemafinanceiro, as perspetivas de estabilidade política e o grau deconsenso entre as forças partidárias do arco da governabilidadequanto às orientações fundamentais da política económica.

Por outrolado, acrescentou o presidente da República, é provável que osmercados prestem particular atenção às avaliações da 'troika',das instituições internacionais, do Eurogrupo e de alguns parceirosda Zona Euro, bem como à evolução da notação atribuída àdívida soberana portuguesa pelas agências de 'rating'.

Quanto àhipótese de um segundo resgate, Cavaco Silva rejeitou liminarmenteessa possibilidade, notando que esse cenário, que seria "bastantenegativo, quer para Portugal, quer para a União Europeia", estádesde o início do ano "completamente excluído".

Redação