O mundo não seria o que é hoje - um planeta com sete mil milhões de almas - sem os antibióticos. Não há registo de ter existido na História da espécie humana um momento em que a superioridade científica nos pusesse a coberto das múltiplas bactérias que sempre em alguns momentos nos fragilizaram, por vezes fatalmente. No entanto, há novos problemas criados pela resistência aos antibióticos, sobretudo porque o seu uso prolongado, repetido ou indevido começa a criar problemas de saúde pública.
Até aqui está toda a gente de acordo. O problema é a seguir: como distinguir as situações em que eles são mesmo indispensáveis. E aqui junta-se outro problema: a defesa do próprio médico que corre sempre o risco de 'negligenciar' a importância da doença. O mundo não é preto ou branco. Não vai ser fácil resolver esta equação.
[perguntas]
[1] Há um problema de saúde público por uso excessivo de antibióticos?
[2] Que novidade traz a entrada em funcionamento do Centro Materno-Infantil do Norte?
[respostas]
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S.João
[1] Segundo alguns peritos mundiais, há um problema ecológico e de sobrevivência da espécie relacionado com o uso excessivo de antibióticos.
[2] Melhoria das condições de atendimento na área de referência do Centro Hospitalar do Porto.
Isabel Vaz, presidente da Comissão Executiva da Espírito Santo Saúde
[1] Há. A resistência aos antibióticos é um problema gravíssimo que tem estado no centro das políticas de saúde pública e da própria OMS. É necessário formar melhor os médicos e alertar a população.
[2] Trata-se de uma unidade moderna que reúne serviços de diferentes hospitais integrados no Centro Hospitalar do Porto, significando, por isso, uma evolução na organização da rede hospitalar. No entanto, um planeamento correto teria aconselhado a não separar fisicamente estes serviços das outras valências hospitalares, como aqui acontece.
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] O uso indiscriminado de antibióticos é nocivo. Em Portugal, o excesso resulta de deficiente formação/informação não só dos médicos mas também dos doentes que frequentemente pressionam o médico a prescrevê-los. É um problema de saúde pública grave.
[2] Não conheço exactamente as condições mas, em princípio, a concentração das valências materno-infantis numa única e grande instituição parece-me positiva. Resulta numa associação de saberes única de grande valia para a população.
Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e professor da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
[1] Sim, há. O uso indiscriminado de antibióticos gera, crescentemente, mecanismos de resistência dos microrganismos. Isto ameaça seriamente a saúde pública, como aliás é sublinhado pela OMS. Portugal tem na Europa um dos mais elevados índices de resistências microbianas. É imperioso combater eficazmente este flagelo. Estudos como o recentemente publicado pela DECO são um grito de alarme.
[2] A necessidade do CMIN era e é absolutamente evidente. A sua entrada em funcionamento traz a prestação de melhores e, em especial, mais integrados cuidados de saúde materno-infantil. E muito contribuirá para que Portugal continue a ser referência internacional nesta área.
Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho
[1] O uso excessivo de antibióticos é um problema global, e Portugal não foge à regra (bem pelo contrário). Daí que seja urgente tomar as medidas necessárias (e globais) para evitar que as dimensões do problema assumem proporções dramáticas.
[2] É o fim de uma longa novela (o que por si só é bom). O que se espera é que sirva com qualidade a população.
Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde
[1] Uns dizem que sim, outros que nada prova que a redução do uso de antibióticos evite a sua resistência. De qualquer modo a utilização de um fármaco poderoso como um antibiótico deve sempre ser bem ponderada e de segura necessidade.
[2] Novidade muito pequena, porque o Centro foi reduzido a um conjunto de serviços hospitalares, ao contrário do seu projeto inicial que era a criação de uma instituição autónoma extra hospitalar, coroando o Programa da Saúde da Mulher e da Criança.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] Para manter a eficácia dos antibióticos, é indispensável cumprir rigorosamente as horas e dias de tomas. Sem isso, aumentamos as resistências e deixam de ser eficazes. Isso sim é um problema de Saúde Pública.
[2] A integração e proximidade dos diferentes serviços trará melhorias no funcionamento e prestação dos cuidados, à semelhança de outros projetos. Desejo as maiores felicidades aos profissionais de saúde que lá trabalham para o bem das grávidas e crianças que lá serão seguidos.