Saúde

Ébola, uma epidemia que precisa de milhões

A última edição da revista Economist tem um título de capa muito claro: "Guerra ao ébola". É sintomático. Quando a revista mais influente do mundo, política e economicamente, dá este destaque ao problema é porque ele se transformou num caso de dimensões planetárias assustador.

No entanto, a cada dia que passa, os custos humanos e financeiros aumentam. A 25 de Março deste ano a Organização Mundial de Saúde deu o primeiro grande alerta sobre a doença assinalando que na Serra Leoa, Libéria e Guiné, tinham sido registados 60 mortes. Como os grandes países não ocorreram para ajudar e deixaram o trabalho para as frágeis organizações não governamentais, a 15 de Outubro já havia quase nove mil casos registados e perto de cinco mil mortes.

Agora o financiamento para travar o ébola já é outro. Os estudos dizem que para estancar tanto quanto possível o problema em África são necessárias 100 mil camas dedicadas à doença, muitas delas em centros improvisados a construir de raiz. O orçamento atual estimado é de um a dois biliões de dólares por mês (de 800 a 1600 milhões de euros). Por mês - não é engano. Se a doença chegar à Índia, China ou em geral a todo o mundo, parar o ébola vai custar muitíssimo. Incalculável talvez, se não surgir nenhum tratamento eficaz a curto prazo.

Portugal, com as suas ligações a África, está exposto. Não há razões para pânico, dizem os membros deste barómetro. Mas o futuro de milhões de pessoas decide-se a cada dia de inação em África.

[perguntas]

[1] O ébola é uma ameaça preocupante para Portugal e para a Europa?

[2] A Generalidade dos hospitais nacionais podem ser apetrechadas rapidamente caso exista uma epidemia?

[respostas]

Manuel Antunes, cirurgião torácico e professor da Universidade de Coimbra

[1]Qualquer epidemia deste tipo é preocupante mas penso que esta nunca poderá atingir as dimensões que tem em África. É importante que os cidadãos estejam bem informados e adotem as medidas protetoras adequadas.

[2]Não mas também não será necessário. Estes casos devem ser tratados em centros de referência e isso só poderá ser decidido após diagnóstico. O problema é que nessa altura os doentes já são contagiosos e já o eram antes. Daí ser um problema que requer educação e informação.

Mauricio Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e prof. da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

[1] É uma séria ameaça mundial. A OMS decretou o estado de emergência de saúde pública internacional. Em Portugal e Europa o risco deve-se à deslocação de pessoas de e para zonas endémicas, o que implica vigilância activa.

[2] Em Portugal não faz sentido falar em epidemia mas sim em casos pontuais. Segundo a DGS, o país está preparado para fazer face a casos que venham a ser identificados. Estão definidos 3 hospitais profissionais de saúde e população.

Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho

[1] Claro que é uma ameaça preocupante para todos, na medida em que se trata de uma infeção para a qual os meios de controlo terapêutico são muito limitados. Isso, porém, não justifica pânico, que é aliás, contraproducente no combate a estas situações.

[2] A generalidade não. Existem, contudo, no nosso Sistema Hospitais suficientes para lidar com o problema.

Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde

[1] É preocupante o comportamento das populações para interiorizarem a necessidade de comportamentos rígidos e disciplinados que evitem a difusão do vírus. Mesmo em Portugal e nos países europeus desenvolvidos é fundamental, sem pânico, insistir e treinar a prática de comportamentos adequados à gravidade do contágio.

[2] Os hospitais estão apetrechados. Mas, ou se domina a propagação do vírus ou, por muito bem apetrechados que estejam, serão submersos pelo número de doentes.

António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João

[1] Podem surgir casos importados de outros países com risco de transmissão. No entanto o risco de epidemia na Europa é muito baixo.

[2] Os hospitais de referência estão apetrechados e todos são enquadrados pelo plano nacional específico. O objetivo essencial é evitar a transmissão, ainda que esporádica, a outras pessoas, nomeadamente profissionais de saúde.

Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics

[1] Não sendo uma prioridade nacional ou europeia neste momento, é para seguir com atenção e insistir nas medidas de precaução.

[2] A regras estão estabelecidas, terá de haver uma coordenação da sua implementação de forma rigorosa.

Miguel Guimarães, Presidente da Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos

[1] É uma ameaça para a Europa e especialmente para Portugal, devido às relações entre o nosso país e vários países africanos, porque é uma doença infecciosa com elevada taxa de mortalidade, sem cura terapêutica conhecida e sem vacina que permita proteger em larga escala. É possível evitá-la cumprindo todas as normas de segurança já conhecidas.

[2] Não. Centrar o combate à doença apenas no acolhimento de doentes com ébola é manifestamente insuficiente. É urgente promover a prevenção.

Isabel Vaz, presidente da Comissão Executiva da Espírito Santo Saúde

[1] Julgo que sim. Se os países africanos com que Portugal tem mais relações chegarem a ser declarados de risco, podemos vir a ter casos importados desses países, pelo que se justifica que as autoridades nacionais estejam atentas.

[2] Os hospitais portugueses estão a preparar-se e a formar os seus profissionais para essa eventualidade. É fundamental que as populações cumpram rigorosamente as regras definidas pela DGS.

Redação