Afonso Camões

Um portão escancarado à devassa!

Deixemos de lado o detalhe da investigação policial e a tramitação da justiça, que precisam do seu tempo. Nada de juízos apressados sobre gente com boa folha de serviços. Agora, a emergência é política. Porque admitir que as detenções das últimas horas, e a oportunidade da sua divulgação, se devem a uma alegada disputa entre ministérios de um mesmo Governo, com uma polícia a retaliar sobre as outras o facto de estar em causa o monopólio das escutas, é risível e seria brincar com o fogo.

A detenção inédita - por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais e outras malfeitorias - de vários altos quadros da administração pública, à cabeça dos quais o diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, deixa o país em estado de choque.

É que o diretor do SEF é a figura a quem confiamos a proteção externa de um património indeclinável - o nosso território chão. Ele é o guarda-portão do país. E prendê-lo, por suspeita, é admitir que o portão foi, esteve, e está escancarado à devassa.

A atribuição de vistos "gold", instrumento de facilitação da residência a estrangeiros oriundos de fora do Espaço Schengen, foi agitada nos últimos meses como bandeira do Governo para captar receitas extraordinárias de milhões destinadas, em princípio, a investimento produtivo em Portugal.

Nada a opor ao princípio geral sobre a atribuição desses vistos, que aliás é utilizado com sucesso em inúmeros países do Mundo tradicionalmente acolhedores de imigrantes ricos. O problema está na regra e na conduta, quando se admite alargar extraordinariamente a malha de critérios, antes muito restritivas, sobre aquilo que os mais timoratos chamam "venda da nacionalidade", correndo o risco de facilitar a lavagem de dinheiro em larga escala.

O Governo - a começar no vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, que tem sido o principal arauto da cruzada de angariação de "novos portugueses" - deve uma explicação urgente ao país.