Saúde

O melhor sistema público é o da Saúde

Desde o arranque dos Barómetros JN que só um índice se manteve sempre positivo: o da saúde. E a razão é simples: a Saúde em Portugal, apesar de muitos defeitos (como os enfermeiros, por exemplo, explicariam), é um sistema público acima da média do país. Veja-se o caótico estado dos tribunais, mais a novela do software Citius, olhe-se para a Educação, pense-se no fraco crescimento económico ou no caso BES: a diferença é abissal.

O surto de legionela que aterrorizou Vila Franca de Xira nos últimos dias provou uma débil fiscalização do país quanto a bactérias inaladas fora, mas sobretudo e muito mais frequentemente dentro dos edifícios. No entanto, os hospitais, a Direção-Geral de Saúde e o ministro demonstraram o que é regra: quase sempre à altura das situações mais extremas.

O problema português, como se sabe, não passa por grandes causas ou grandes eventos. É o problema das rotinas com falhas. A facilidade com que o Governo eliminou as inspeções periódicas à climatização dos edifícios é tão absurda quanto o já elevadíssimo número de vítimas anuais por legionela: 96 em 2013, segundo os números da Direção-Geral de Saúde. O que mais faz estranhar como é possível terem-se eliminado as inspeções aos hotéis, shoppings, escolas, etc... Ter bons hospitais não basta. É preciso ter um país globalmente melhor.

[perguntas]

[1] Os meios e ações de combate à legionela provam a eficácia do Serviço Nacional de Saúde?

[2] Há 15 hospitais públicos autorizados a receber casos de saúde privados (vindos de seguradoras, hospitais privados ou do estrangeiro). Concorda?

[respostas]

Manuel Antunes, cirurgião torácico e professor da Universidade de Coimbra

[1] Embora dramática e inesperada, esta não foi nem será a crise mais difícil para o SNS, pelo que não surpreende a eficácia com que foi ou está a ser resolvida. Nem sequer exige meios muito especiais, além da ventilação de alguns doentes.

[2] Não se sabe como foram escolhidos. Deveria ser muito simples: hospitais e/ou serviços sem lista de espera ou com lista aceitável e bem definida deveriam poder tratar quem entendessem. E todos os hospitais já recebem doentes de seguradoras.

Mauricio Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e prof. da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

[1] As autoridades de saúde têm sabido enfrentar a situação de forma coordenada e os hospitais do SNS envolvidos têm sido capazes de responder adequadamente.

[2] Sim, faz todo o sentido. O sistema de saúde deve assentar cada vez mais num modelo de complementaridade e concorrência entre os setores público, privado e social, em que os utentes tenham liberdade de escolha.

Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho

[1] Sim, como está a ser demonstrado neste surto de importantes dimensões, os cuidados de saúde hospitalares portugueses são eficazes, algo que devemos sempre valorizar e preservar.

[2] Desde de que devidamente regulada e regulamentada, vejo como positiva essa possibilidade, sobretudo para garantir a prestação dos melhores cuidados assistenciais aos pacientes.

Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde

[1] A prontidão da resposta, o desenrolar das investigações, os meios postos à disposição, os resultados das hospitalizações mostram bem a eficácia e qualidade do trabalho de equipa e liderança do SNS. Este surto excecional mostra bem a importância da área da saúde pública e suas carreiras profissionais, tão pouco procuradas.

[2] Concordo. Concorrência, receitas e internacionalização são necessárias e benéficas. E os serviços deviam publicitar o que fazem, preços e resultados.

António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João

[1] Sim, sem margem para dúvida.

[2] Não concordo com a absurda metodologia utilizada pela ERS.

Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics

[1] Neste caso, tem sido evidenciado um plano de ação concertado e bem conduzido, envolvendo todos os responsáveis, e com boa comunicação do senhor ministro da Saúde e do senhor diretor-geral da Saúde.

[2] Sim, havendo condições para o fazer, todos têm a ganhar com a cooperação entre todos, públicos e privados, na prestação de serviços médicos. A pessoa doente tem de ser sempre a preocupação central, à volta da qual se organiza a prestação de cuidados.

Miguel Guimarães, Presidente da Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos

[1] Sim, os profissionais de saúde têm sido exemplares. Existem responsabilidades políticas na inspeção, prevenção e controlo destas infeções que devem ser apuradas.

[2] Discordo. O SNS não tem salvaguardado o seu código genético. Liberdade de escolha e concorrência obrigam a centrar a saúde no doente, modos de financiamento diferentes, transparência de processos, informação pública objetiva e auditável de todos os resultados em saúde. Nada disto acontece atualmente.

Isabel Vaz, presidente da Comissão Executiva da Espírito Santo Saúde

[1] Tudo indica que a resposta das autoridades de saúde nacionais a este surto está a ser eficaz.

[2] Antes de mais, é preciso definir o que é um doente privado no contexto do SNS - sendo certo que os cidadãos portugueses já pagam impostos para terem acesso aos serviços de saúde sem pagarem mais do que taxas moderadoras. A pergunta só faz sentido se estivermos a falar de clientes estrangeiros ou de acidentes de trabalho e de viação.

Redação