José Manuel Diogo

Falta de velocidade

O Tribunal de Contas veio dizer - sete anos depois e sabe Deus porquê agora - que o comboio de alta velocidade era "deseconómico". E o Caminho Marítimo para a Índia? Eu também preferia ser alemão em vez de periférico. Só que na Alemanha está sempre mais frio.

A consolação mórbida que os portugueses encontram nos seus insucessos é algo de assinalável. Pior que termos chegado tarde à conclusão de que o comboio de alta velocidade era economicamente inviável, é contentarmo-nos com isso. Como se permanecer isolado fosse uma fatalidade.

A Alta Velocidade foi um processo mal conduzido? Talvez. Teve vícios e assessores a mais? É possível. Mas era uma boa ideia.

O comboio liga diretamente os centros das cidades. Sem checkins nem transfers. Ter Atocha a duas horas por terra é completamente diferente de ter Barajas a 50 minutos de avião. É Madrid muito mais perto. Abriria uma série de oportunidades à centralidade atlântica portuguesa. Com o comboio, Lisboa seria por natureza o Hub aeroportuário do atlântico, viabilizando a TAP e a ANA (uma vendida e outra a vender em saldo). O custo das emissões de carbono faria duplicar os aviões que, em Portugal, transportariam passageiros e mercadorias na rede ferroviária para toda a Europa.

Esta semana mesmo, a nossa vizinha Espanha - também periférica, mas não provinciana - anunciou para 2015 mais 1000 km de via férrea de alta velocidade. O AVE chegará a mais oito capitais espanholas. No Norte une as quatro maiores cidades da Galiza, assim como Zamora, León, Palência e Burgos. No Leste, liga Valência com Castellón e Alicante com Múrcia. No Sul será concluído o troço entre Sevilha e Cádis, ao mesmo tempo que se concluirá a ligação com Granada.

Escreve o diário El País que o orçamento destinado à construção dos novos troços da rede atinge os 3.561 milhões de euros, 48% mais do que em 2014. Nós continuaremos a ir de carro!

Para a história, substância da memória para as gerações vindouras, fica um facto simples: Portugal é o único país da Europa que não tem (nem terá) comboio de alta velocidade.

Antes, na nossa história, Portugal soube inventar centralidades onde não existiam. Agora só consegue encontrar impedimentos nas oportunidades que aparecem.