A falta de Centros de Saúde abertos durante o período natalício tem algo a ver com o elevado número de mortes nas urgências? Provavelmente sim. A chave para resolver os problemas dos hospitais passaria por isso mesmo: encaminhar para atendimentos de proximidade as pessoas que têm problemas menos graves, deixando as urgências com menores listas de espera. Como se viu, podem chegar às 24 horas.
Possível? António Ferreira, presidente do Hospital de São João, diz que um dos maiores obstáculos a uma alteração desta natureza passaria por mudanças na legislação laboral. É também certamente possível fazerem-se também alterações nos serviços de urgência ou usar parte do dinheiro que existente para contratar médicos de recurso e colocar esse orçamento no reforço dos Centros de Saúde. Difícil? Certamente não é impossível.
[perguntas]
[1] As cíclicas crises nas urgências nos períodos de Natal e Ano Novo podem ter solução?
[2] A contratação de médicos a empresas externas aos hospitais deve continuar a ser uma prosseguida?
[respostas]
Miguel Guimarães, presidente da Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos
[1] A solução consiste na promoção activa de serviços de atendimento alargado ao nível dos cuidados de saúde primários, na existência de médicos e outros profissionais em número suficiente em equipas organizadas ao nível das urgências hospitalares, e no reforço necessário das equipas nos momentos previsíveis de crise.
[2] Os médicos devem ser contratados directamente através de concursos e não através de empresas prestadoras de serviços. A qualidade, a responsabilidade e a eficácia assim o exigem.
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S.João
[1] Nos picos epidémicos de gripe ocorre sempre um aumento de pressão sobre as urgências e internamentos hospitalares. A resolução passa pela necessidade de aumentar os recursos sazonalmente nos hospitais e especialmente nos centros de saúde (que aliás acontece nalguns países e impõe-se, por isso, as alterações legislativas necessárias na legislação laboral).
[2] A contratação externa é um mal menor.
Isabel Vaz, presidente da comissão executiva da Espírito Santo Saúde
[1] Só quando os cuidados de saúde primários e os apoios na comunidade cumprirem efetivamente o seu papel. Infelizmente, estamos muito longe ainda dessa realidade.
[2] Não é a forma como se contratam médicos que deve ser discutida, mas a organização dos serviços e dos seus recursos humanos. Mais uma vez, essa é uma matéria em que temos ainda muito a fazer.
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] Não podem ser eliminadas mas podem ser minimizadas. Evidentemente, não é possível ter sempre gente suficiente para atender os picos, ficando inativa entre eles. Mas o que se necessita é de melhor e mais atempada programação, o que manifestamente não tem acontecido.
[2] Pessoalmente sou contra a utilização de rotina deste método, porque não favorece o espírito de equipa que é indutor de eficiência e produtividade. Admito-o nas tais situações de urgência acrescida.
Mauricio Barbosa, bastonário das Ordem dos Farmacêuticos e professor da Fac. Farmácia do Porto
[1] Podem sim. Desde logo através de um planeamento rigoroso das férias dos profissionais. E também através da reorganização e do planeamento adequado da rede de unidades de atendimento e da inclusão de centros de saúde na mesma.
[2] A regra deve ser a constituição de equipas organizadas e coerentes, com base num correcto planeamento dos recursos humanos, e não a adopção de soluções avulsas e casuísticas como é o recurso a empresas externas.
Paulo Mendo, antigo ministro da saúde
[1] A resolução do problema das Urgências está no maior desenvolvimento dos cuidados ambulatórios, com maiores e mais alargadas competências e mais racionais orçamentos.
[2] Só a necessidade conjuntural obriga a este processo, espúrio e nefasto. Deve acabar o mais rapidamente possível.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] Sim, com uma organização antecipada e a montante destas crises, já previsíveis nestes períodos.
[2] Sempre que possível, favoreço a contratação directa: envolve uma responsabilização pessoal, contribui para a estabilidade do quadro clinico e consequente qualidade dos serviços prestados.