O caso BES

Ex-ministro do PSD ajudou BES a obter empréstimo antes do colapso

O ex-presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio (D), conversa com José Luís Arnaut (E) momentos antes da apresentação do livro "Rui Rio, de corpo inteiro", em Lisboa, 11 de dezembro de 2014 MÁRIO CRUZ/LUSA

O ex-ministro José Luís Arnaut e o "partner" do Goldman Sachs António Esteves estiveram envolvidos no empréstimo superior a 706 milhões de euros do banco norte-americano ao BES, noticia, esta segunda-feira, o Wall Street Journal.

Segundo uma notícia publicada, esta segunda-feira, na edição on-line daquele jornal norte-americano, que cita fontes ligadas ao processo, o empréstimo de cerca de 706,5 milhões de euros do Goldman Sachs ao BES (a um mês do colapso do banco) "resultou de um esforço concertado" e de "vários meses" envolvendo vários dos mais altos membros da instituição financeira, entre eles José Luís Arnaut e António Esteves.

O empréstimo que está agora sob análise do Banco de Portugal, que está a tentar desbravar a rede de acordos e ligações do BES na altura do seu colapso, foi aprovado por pelo menos três comités do Goldman Sachs, "compostos por altos executivos do banco" e que foram "designados para avaliar rigorosamente as transações e o potencial para prejudicar a reputação do banco".

O jornal norte-americano escreve que José Luís Arnaut, antigo ministro de Durão Barroso e de Santana Lopes (PSD), e que desde janeiro de 2014 faz parte do conselho consultivo internacional do banco norte-americano, "manteve contactos com o presidente executivo do BES, Ricardo Salgado, oferecendo a ajuda do Goldman Sachs para angariar dinheiro" para o banco português.

Por outro lado, acrescenta o WSJ, António Esteves, na Goldman Sachs em Londres, "ajudou a montar uma equipa nos departamentos de instrumentos financeiros para criar uma estrutura complicada para arranjar o empréstimo".

Segundo o WSJ, António Esteves era conhecido dentro do banco norte-americano "como o vendedor com as ligações mais fortes aos bancos e às empresas públicas na Península Ibérica".

O jornal junta ainda os nomes de Michael Sherwood e de Richard Gnodde, responsáveis do Goldman Sachs em Londres, ao caso, afirmando que conheciam o negócio entre os dois bancos.

Segundo o Wall Street Journal, o financiamento foi concedido através de um veículo financeiro do Luxemburgo, criado para financiar a construção de uma refinaria chinesa na Venezuela: a Oak Finance.

Na semana passada, o BES anunciou que foi notificado da decisão tomada pelo Banco de Portugal (a 22 de dezembro) de não transferir para o Novo Banco o empréstimo superior a 706 milhões de euros, contraído junto do banco Goldman Sachs através de uma sociedade luxemburguesa.

De acordo com a deliberação do Banco de Portugal, "a responsabilidade do BES perante a Oak Finance emergente do referido contrato de financiamento não foi transferida para o Novo Banco, com fundamento na convicção por parte do Banco de Portugal de que a Oak Finance atuou, na concessão do financiamento, por conta do Goldman Sachs International".

No passado dia 26 de dezembro, o Goldman Sachs contestou a decisão tomada nessa semana pelo Banco de Portugal acerca da não transferência da responsabilidade contraída pelo BES perante a Oak Finance Luxembourg e ameaçou recorrer aos tribunais para contrariá-la.

Em causa está a deliberação da entidade liderada por Carlos Costa de não transferir "a responsabilidade contraída pelo BES perante a Oak Finance Luxembourg", anunciada a 23 de dezembro que tem um impacto positivo em reservas no Novo Banco de 548,3 milhões de euros.

Redação