Cerca de 400 portugueses participaram, na sexta-feira, numa manifestação em frente ao Parlamento espanhol contra uma lei que consideram restringir o direito ao protesto em Espanha. No entanto, nenhum deles esteve fisicamente em Madrid, apenas os seus hologramas.
A manifestação, organizada pela plataforma "Não Somos Delito", juntou os protestos de mais de 18 mil pessoas de todo o Mundo, que enviaram vídeos (posteriormente transformados em hologramas) ou gravações áudio com palavras de ordem. Hoje todas estas pessoas fizeram sentir a sua voz quando os seus hologramas foram projetados numa instalação em frente ao Congressos dos Deputados, no centro de Madrid.
Em causa está a nova lei de Segurança dos Cidadãos aprovada em março pela atual maioria do Partido Popular (com votos contra da oposição), que a apelida de "Lei Mordaça".
"Estamos aqui diante do local onde se fazem as leis precisamente para contestar uma lei que permite às autoridades multarem em 30 mil euros a organização de uma manifestação pacífica em frente ao parlamento, caso esta não seja previamente autorizada", disse à agência Lusa um dos porta-vozes da plataforma "Não Somos Delito", Alejandro Gámez Selma.
Por detrás de Alejandro, enquanto este prestava declarações, uma pequena "multidão" de hologramas desfilava uma e outra vez, com palavras de ordem sincopadas, exatamente como na vida real: "A lei mordaça é uma ameaça!" ou "Estas são as nossas armas!", gritavam.
A plataforma diz que se trata da primeira manifestação de hologramas da história e sublinha que "é uma caricatura", para contornar uma lei.
De entre a multidão de hologramas, um salta para a frente do cortejo. É o holograma de Carlos Escaño, outro dos porta-vozes da "Não Somos Delito".
"Hoje são as manifestações e reuniões espontâneas na rua [que são alvo de leis restritivas], e amanhã o que será? Hoje o nosso corpo não está aqui fisicamente, mas os nossos direitos sim", exclama o holograma de Carlos.
Carlos esfuma-se no ar e dá lugar a Alba Villanueva: "A soberania reside no povo por direito e não há lei que possa silenciar-nos e fechar-nos em nossas casas. Vamos sempre encontrar forma de sair à rua para expressar-nos. Sempre", sublinha.
Os restantes hologramas que se manifestam não reagem, mas as cerca de duas dezenas de pessoas - essas sim bem reais - que seguem o ato à distância, aplaudem.
Alejandro Selma diz que a plataforma "Não Somos Delito" é apartidária, mas acrescenta que trabalhará com todos os partidos que se queiram juntar à cidadania. E garante que o grupo - que reúne mais de 100 movimentos sociais contra a lei - vai continuar a organizar atos de protesto, numa tentativa de impedir que a lei entre em vigor, a 1 de julho.
Por outro lado, admite que a manifestação de hologramas - com pessoas convertidas em imagens tridimensionais, mas sem estarem fisicamente - é o sonho de qualquer governo que queira restringir as liberdades.
"É uma espada de dois gumes. Provamos que este tipo de protesto se pode fazer e qualquer governo gostaria que todas fossem assim. Mas acreditamos que as pessoas, o povo sairá sempre à rua para defender os seus direitos", realçou.