Sebastião Feyo

Sempre, o admirável mundo novo...

1. A Fundação Francisco Manuel dos Santos organizou no passado dia 12, na Casa da Música, uma conferência subordinada ao tema "Admirável mundo novo - O futuro chegou cedo demais?". O tema inspirou-se reconhecidamente no famoso livro de Aldous Huxley "A brave new world", publicado no ano distante de 1932. Quando percebemos que esta reflexão é atual hoje, como há 83 anos, percebemos que os problemas associados ao impacto social e económico das conquistas da ciência e da tecnologia são intrínsecos à existência e ao desenvolvimento humano. A mensagem é pois que temos que manter, em cada geração, um esforço continuado de perceção dos desafios que se nos colocam perante esses avanços da ciência e da tecnologia, com o objetivo de assegurarmos um contínuo de desenvolvimento equilibrado da dimensão económica e social da vida. É bem claro que a superação desses desafios reclama de nós, sem alternativa, uma atitude de adaptação exigente e continuada aos tempos.

2. Completo este mês de junho um ano de mandato como reitor da Universidade do Porto, com um programa escrito sob o mote "antecipar o futuro - ousar a mudança". Perceba-se a relação deste mote com o antecedente. Em muitos aspetos da nossa vida, aceite-se que não em todos, o futuro só chega cedo demais na medida da nossa incapacidade de o antecipar, o que significa que não raras vezes está nas nossas mãos que esse futuro não nos surpreenda. Os desafios neste dealbar do século XXI estão bem identificados. O aumento da esperança de vida, associado à evolução nas ciências da vida, e a revolução digital ainda na sua infância, conjugados com o xadrez político mundial atual, esse quiçá efémero, construíram um mundo e uma sociedade globais, em que temos de encontrar os nossos pontos de equilíbrio: na relação entre gerações, vista na necessária compreensão pelos mais velhos da visão e das aspirações dos mais novos; no necessário compromisso social intergerações, de que a questão da sustentabilidade do sistema social está na ordem do dia; na criação de novos modelos de trabalho; e, principalmente, na visão de educação ao longo da vida. Enfim, uma adaptação contínua a um mundo, que no presente e no futuro, tal como no passado, em cada momento, deverá ser sempre visto como um admirável mundo novo.

PROFESSOR CATEDRÁTICO, REITOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Sebastião Feyo de Azevedo