Cultura

18 mil brindaram a Sting no regresso do Super Rock a Lisboa

Sting Álvaro Isidoro/ Global Imagens

No primeiro dia do regresso do Super Bock Super Rock a Lisboa, após cinco anos no Meco, 18 mil pessoas rumaram ao Parque das Nações, a maioria para assistir ao concerto do veterano Sting. Esta noite há Jorge Palma e Sérgio Godinho, dEUS e Blur.

Nos anos mais recentes, o Super Bock Super Rock (SBSR) esteve no Meco, em Sesimbra, abraçado num panorama campestre, de mato com praia perto, pinheiros, areia, caruma abundante. O povo tanto reclamou tanto reclamou, com queixumes da poeira no ar e lamúrias sobre engarrafamentos nos acessos, que o festival acabou por regressar à selva urbana.

O contraste, agora, é colossal: tudo se passa na Lisboa da Expo, toda moderna e sofisticada, com cimento e betão armado, calçada portuguesa, teleféricos, torres e arquitetura contemporânea. Até há um casino a espreitar por detrás de um palco. É mais cómodo e conveniente para o público, garante a maioria, mas perde-se uma certa sensação de evasão na natureza, de vertigem no arvorejar, mergulho no campo, de "hei, onde é que deixei mesmo a minha tenda?".

A tarde começou calma no novo recinto do festival, com a maioria a chegar em horário pós-laboral e a encaminhar-se certeira para o Meo Arena, o palco nobre desta 21.ª edição. Sting era o indiscutível cabeça de cartaz e com pontualidade britânica subiu ao palco às 23h30. Com barba barda e um bronzeado de fazer inveja a muitos portugueses, começou por sacudir a multidão com "If I Ever Lose My Faith in You".

Os balcões estavam à pinha, a plateia em pé mais desafogada, ambos preenchidos com várias gerações que espelham o claro sucesso do antigo homem-forte dos Police. Aos 63 anos, Sting mantém uma energia invejável e continua a galvanizar o público ora com canções suas, ora com os êxitos do repertório dos Police. "Every Little Thing She Does Is Magic" foi a primeira a ser repescada do baú da sua antiga banda e deixou a plateia eufórica.

Dos Police chegariam ainda "When the World Is Running Down, You Make the Best of What's Still Around", "Driven to Tears" ou as muito celebradas "Walking on the Moon", "Message in a Bottle", "De Do Do Do, De Da Da Da" e "Roxanne" (entrecortada por uma versão de "Ain't No Sunshine", de Bill Withers). Canções que encantam diferentes públicos e que são entoadas em uníssono, verdadeiros êxitos atemporais que a vivacidade de Sting - e da virtuosa banda que o acompanha - permite que sejam hinos de ontem e de hoje.

Num alinhamento dominado pela obra dos Police, o último disco, "The Last Ship" (2013), foi preterido em favor de sucessos da carreira de Sting a solo como "Englishman in New York" ou "Desert Rose" e "Fragile", já no encore. Também para o derradeiro momento ficou reservada "Every Breath You Take", dos Police.

Estrela consolidada no firmamento pop rock há vários anos, Sting consegue encher uma casa e fazê-la vibrar com músicas dos anos 70, 80, 90 e 2000, apontadas ao coração de um público dos "16 aos 76". E havia mais novos e mais velho: crianças a fazer o pino na plateia, gente de sorriso estampando no rosto e movimentos económicos, casais que se abraçam e agitam com a voz colocada à altura do ídolo.

Quando Sting sai de cena, a debandada é quase total, como se todos estivessem ali apenas para o concerto do britânico. Sexta-feira é dia de trabalho e parece não haver tempo a perder com outras paisagens sonoras.

Noel Gallagher e os High Flying Birds

Os Oasis, quer se queira quer não, fizeram algumas das melhores canções pop britânica dos anos 90 e viragem do milénio. Não falta aí quem embirre com eles, gente saturada da hiper-exposição enviada pela imprensa britânica - que é a pior e a mais alcoviteira e azeiteira do mundo -, gente incapaz de separar as canções da coscuvilhice que nelas o circo grudou. Os manos Gallagher pariram um punhado de bons discos, desatinaram a dada altura, fliparam por completo e desintegraram-se em 2009. Foi cada um para seu lado.

Noel Gallagher, habitualmente visto como "o atinadinho" dos dois, passou pelo palco principal do SBSR com os seus High Flying Birds e despejou canções dos seus dois álbuns a solo, mas foi visível que o público - que encheu bem mais do que metade da sala - esteve ali à espera das peças dos Oasis.

E, claro, a dada altura elas chegaram mesmo: "The Masterplan" foi a primeira, mais à frente surgiu "Champagne Supernova" e, logo a seguir, colada, "Whatever" prolongou o êxtase.

Não é o mesmo que ver os Oasis, é preciso dizê-lo. Ainda que a banda de Noel vá cumprindo dentro dos possíveis falta ali a voz do mano Liam e nas canções que Noel vai compondo a solo não se descortina o sentido de urgência difundido pela cumplicidade e o desatino com o irmão. Houve, ainda assim, "Don't look back in anger" a fechar o concerto, ele calado a deixar o povo cantar, um belo momento.

E pairou, nesse final, a vontade de voltar a ver os Oasis reunidos em palco. É uma questão de tempo - isso vai acontecer.

Enquanto Noel Gallagher se despedida, no palco EDP a eletrónica de SBTRKT, alter-ego de Aaron Jerome, reunia uma trupe motivada para se deixar embrenhar nos sintetizadores e teclados do inglês. Foi o último concerto deste palco ao ar livre, que durante os três dias apagará sempre as luzes à meia-noite.

Mas é também no EDP, junto do Pavilhão de Portugal desenhado por Siza Vieira e debaixo da famosa pala, que diariamente se podem absorver os primeiros sons do festival.

Os primeiros concertos do dia

Os Ostra S.R. (raio de nome, chiça) são uma dupla lusitana entranhada numa eletrónica aparentemente quadrada mas, no fundo, enriquecida por subtilezas e minúcias labirínticas. Trouxeram laptops e maquinaria diversa. Durante 40 minutos libertaram uma música mais propícia a ser consumida em madrugadas de abstracionismo sensorial. Os primeiros minutos foram interessantes - depois tudo se afigurou redundante e repetitivo.

A fasquia subiu, e muito, com a chegada dos King Gizzard and the Lizard Wizard, máquina australiana a disparar um avassalador garage róque psicadélico (é para isso que aqui estamos) com dois bateristas, uma harmónica e três guitarristas.

Foi um tsunami elétrico delicioso em final de tarde, é verdade, mas outro encanto brotou no outro lado do recinto quase em simultâneo: Nuno Rodrigues, um músico de Barcelos, o cérebro do projeto Duquesa. O moço - faz esta quinta-feira 25 anos - costuma tripular outra banda, os Glockenwise, mas é em Duquesa que se descobre o apuradíssimo sentido de melodia de que aquela cabeça é capaz. Indie pop hiper-romântico, canções capazes de fazer inveja a um Stephen Malkmus em 2015 - eis aquilo de que Nuno Rodrigues é capaz.

Igualmente romântico mas mais brando, Mike Adreas, aliás, Perfume Genius, sentou-se ao piano debaixo da pala do Pavilhão de Portugal para quase uma hora de pop barroca em que privilegiou as canções de "Too bright", disco lançado no ano passado.

Esta sexta-feira, o palco Super Bock (Meo Arena) receberá The Drums, Jorge Palma e Sérgio Godinho, dEUS e Blur. Pelos restantes palcos passarão ainda Benjamin Clementine, Savages, Bombay Bicycle Club ou os portugueses Isaura, Da Chick, Best Youth e White Haus.

Catarina Cruz e Cristiano Pereira