Miguel Conde Coutinho

#migrantestraídos

Depois do método inicial das execuções a tiro em massa e antes da decisão de construir campos de concentração, asfixiar e gasear judeus em camionetas era o procedimento usado pelos nazis no seu macabro sistema de morte industrial. Numa arrepiante repetição da História, esta semana foi encontrada, na Áustria, uma camioneta onde se desfaziam, abandonados, os corpos de 59 homens, oito mulheres e quatro crianças. Morreram asfixiados e esquecidos, também eles traídos e esmagados pelo Mal. Se eram migrantes ou refugiados, se escapavam da guerra ou da miséria, pouco importa. Eram pessoas. Homens, mulheres e crianças que fugiam da morte e acabaram vítimas de uma crueldade sem nome.

O Ocidente ganhou milhares de milhões a explorar países pobres e ignorou os pobres que acabaram explorados. Gastaram-se milhares de milhões em guerras que criaram calamidades, mas discutem-se tostões para ajudar as vítimas das bombas. E agora, quando elas nos batem à porta e nos morrem aos pés, os líderes europeus olham uns para os outros, cobardes, com medo de perder votos e de espinha dobrada à xenofobia latente. Em 2015, entraram menos de 500 mil migrantes, que são apenas 0,1% dos 500 milhões da população da UE. A União tem um orçamento de 140 mil milhões de euros e um PIB de 14 biliões. Não é, não pode ser, tão difícil ajudar e receber estas pessoas. Já chega de valas comuns.

*JORNALISTA