Quem já provou a sopa da pedra de Almeirim sabe que este prato não se pode dissociar dos enchidos fabricados na região. Um produto desde sempre feito artesanalmente, pelas mãos de mais de duas dezenas de produtores da região. As normas europeias obrigam, no entanto, a alterações nas condições de desmancha dos animais e produção dos chouriços e morcelas. Caso contrário, a confecção deste prato típico poderia desaparecer. Para salvar os enchidos, a autarquia, em conjunto com a cooperativa local Encheirim, vai avançar com a construção de uma fábrica. Segue-se a certificação do produto.
A obra terá início ainda este mês. Segundo o presidente da Câmara, "a unidade industrial vai situar-se nos terrenos do antigo matadouro". O edifício foi demolido, para que a intervenção seja feita de raiz, estando os trabalhos orçados em cerca de 900 mil euros.
Sousa Gomes explica que tal investimento só é possível graças ao apoio financeiro do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), que contribuiu com a maior fatia - 45% - e do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC), com 20%. A verba restante sai dos bolsos da autarquia. Acrescenta o líder do executivo que "a obra já foi adjudicada, pelo que nos próximos dias será iniciada, devendo estar concluída no primeiro trimestre de 2006".
"O futuro Centro de Corte e Fabrico de Enchidos Tradicionais é da maior importância para a região porque permite dar continuidade à fabricação da famosa sopa da pedra", considera o autarca, adiantando que "actualmente a produção não cumpre os requisitos legais, pelo que não poderia continuar desta forma por mais tempo". E "se cada um dos produtores tivesse que efectuar por si próprio os investimentos necessários, cerca de 125 mil euros, era o fim dos enchidos", admite.
Um desses fabricantes é Carlos Galão, para quem "a fábrica irá beneficiar toda a gente e, sobretudo, a economia da região". "Os nossos enchidos têm características únicas e são procurados por milhares de pessoas de todo o país, pelo que têm de ser de ser defendidos", sublinha, referindo que "a futura unidade irá garantir que o processo de fabricação será o mais artesanal possível". Depois de concluída a fábrica, será possível avançar para a certificação do produto, de forma a que possa ser vendido de forma autónoma.
Os profissionais da restauração vêem com bons olhos esta obra. Para Hélia Costa, proprietária do restaurante "O Toucinho", "a fábrica só peca por tardia, já que, desde o produtor ao consumidor, todos irão beneficiar". A procura da sopa da pedra tem aumentado desde a inauguração do troço da A13, que liga a A1 ao Algarve.
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produtoresExistem na zona, fabricando de forma artesanal os afamados enchidos. As novas exigências da União Europeia poderiam acabar com a produção, não fosse a construção de uma fábrica nos terrenos do antigo matadouro.
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restaurantesÉ o número de estabelecimentos que confecciona a sopa da pedra, recorrendo aos enchidos. A procura deste prato tem crescido. "É um fenómeno curioso. A passagem da A13 sugere uma paragem", diz o presidente da autarquia.