Miguel Conde Coutinho

#volkswagengate

As sociedades saudáveis funcionam porque existem regras. Se existe válida desconfiança de que não estejam a ser cumpridas ou de que não seja possível fazê-lo sem supervisão, há um sistema para investigar, dirimir os antagonismos naturais ou para tentar impedir que aconteçam abusos, fiscalizando e punindo os transgressores. É um contrato de confiança, em que cada um tem de assumir que o outro vai cumprir as normas. Se houver quem não o faça, obtendo vantagens ilegítimas, ou se quem tem de supervisionar, regular e castigar os prevaricadores não quis, não pôde ou não conseguiu cumprir a sua função, o sistema entra em crise. Sem um mínimo de confiança, a sociedade não funciona. O escândalo da Volkswagen é medonho não só pelo evidente desprezo por tudo e todos mostrado por meia dúzia de executivos, mas também porque plantou uma insidiosa dúvida na nossa cabeça: quantos outros abusos e atropelos à lei desta magnitude, neste e noutros setores, já aconteceram ou ainda persistem sem que ninguém dê por isso? Deixaram-se chegar as instituições de supervisão a este ponto. Fragilizadas pelo desmantelamento ideológico do Estado e, aparentemente, cada vez mais ajoelhadas aos interesses dos que supostamente regulam, deixam-nos a terrível sensação de que já não se pode confiar em nada e, por isso, de iminente falência social.

*JORNALISTA