Miguel Conde Coutinho

#jornalistas

Fizeram sucesso nas redes sociais, pelo menos entre jornalistas, as palavras ditas por Fábio Monteiro ao receber, esta semana, o prémio Gazeta Revelação deste ano. Digo-o sem ironia: foi sem dúvida um interessante discurso sobre as nuvens negras que sobrevoam o futuro da nossa profissão. Fábio Monteiro diz que hoje a "utopia do grande jornalismo (..) foi deixada para os idealistas", que são questionados "por aqueles que se adaptam". E acrescenta que "os que dizem não, os que estão aqui presentes, esses são os jornalistas". Acontece que o jornalismo de antes não nascia numa montanha de onde desciam profetas ungidos por Deus, que a tudo resistiam para guiar os ignorantes e para lhes mostrar a verdade, e a quem, por direito próprio, a sociedade devia entregar a tarefa de vigiar os poderes. O jornalismo, antes como agora, era feito por homens e mulheres vulneráveis e era tão frágil quanto eles. A diferença é que agora não temos a proteção do modelo de negócio que tudo permitiu. E isso faz toda a diferença. É trágica, a nossa profissão: corremos o risco de ter de narrar com minúcia a nossa própria morte. Mas ainda assim prefiro tentar influenciar para melhor a mudança, em vez da impossível utopia de a querer impedir.

*JORNALISTA