Uma gigante fuga de informação mostra como chefes de Estado, políticos, criminosos e famosos lavam dinheiro ou escondem bens. Um nome português já foi revelado.
Nos 11 milhões de documentos provenientes da em presa no Panamá Mossack Fonseca, a que a BBC teve acesso, há referência a 72 chefes de Estado e mostra-se como a companhia ajudou os clientes a lavar dinheiro, a escapar a sanções financeiras e a fugir aos impostos.
Os documentos foram obtidos pelo jornal alemão "Suddeutsche Zeitung", que partilhou a informação com um consórcio internacional de jornalismo, o ICIJ,. Mais de 100 meios de comunicação mundiais tiveram acesso ao dossiê, que foi revisto por centenas de jornalistas.
Apesar de o uso de offshores poder ser feito de forma legal, muitas vezes são usados para evitar que sejam conhecidas ligações a negócios menos claros ou para esconder dinheiros dos Estados.
Português apanhado
Nesta teia foi apanhado um empresário português com negócios no Brasil. Idalécio de Oliveira, de acordo com o site do jornal brasileiro "Estadão", teve negócios com a Petrobrás e é referenciado como estando envolvido na Operação Lava Jato. O empresário, através da empresa de advogados, terá aberto "offshore" nas ilhas Virgens Britânicas.
Segundo o "Expresso", os documentos referem empresas offshores controladas por líderes políticos da Islândia, Paquistão e Arábia Saudita, bem como 33 pessoas referenciadas pelos EUA como estando envolvidas com carteis de droga, organizações terroristas ou países como a Coreia do Norte e Irão.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, o rei Salman da Arábia Saudita, um primo do presidente chinês e o pai de David Cameron, o primeiro-ministro inglês, surgem nos documentos.
A BBC afirma não saber qual a identidade da fonte que forneceu as informações.
Rússia
Entre as primeiras informações divulgadas desta fuga de informação, que é maior do que a do escândalo Wikileaks, está a ligação de várias pessoas próximas de Vladimir Putin a um esquema de lavagem de dinheiro.
Pela operação do banco Rossiya, sujeito a sanções dos EUA e União Europeia, terão passado milhares de milhões de dólares através de empresas offshore, duas delas propriedade de amigos próximos de Putin.
Um músico amigo de Putin, Sergei Roldugin, teve lucros de centenas de milhões de dólares em negócios suspeitos, revela a BBC, que salienta a existência de um documento onde se afirma que a companhia de Roldugin tem como fim único "proteger a identidade e confidencialidade do proprietário da companhia".
O Presidente russo não aparece em nenhum dos registos, mas os dados revelam um padrão: os seus amigos, Yuri Kovalchuk e Sergei Roldugin ganharam milhões em negócios, que aparentemente não poderiam ter sido efetuados sem o seu patrocínio.
Islândia
Os dados da Mossack Fonseca mostram ainda que o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson, tinha interesses não declarados nos bancos apoiados pelo Estado durante a crise financeira. Ele e a mulher compraram ainda uma companhia offshore, a Wintris, em 2007, mas que isso não foi revelado ao Parlamento.
Mundo do Futebol
Os documentos mostram que o argentino Lionel Messi e o pai eram proprietários de uma empresa offshore no Panamá, que ainda não tinha sido ligada ao jogador do Barcelona. O atleta está a ser investigado em Espanha por evasão fiscal.
De acordo com o "The Guardian", a FIFA também poderá vir a ter novos problemas com a divulgação de informações que ligam um dos membros do Comité de Ética (o advogado uruguaio Juan Pedro Damiani) com Eugenio Figueiredo, um vice-presidente da instituição acusado de corrupção.
Confrontada com os dados, a FIFA negou saber da ligação e lançou de imediato uma investigação.
Ainda segundo o jornal inglês, o gabinete de Damiani gere cerca de 200 empresas offshore registadas pela Mossack Fonseca e muitas delas têm ligação a Figueiredo, detido em 2015 sob a acusação de estar envolvido num esquema de suborno de milhões de dólares.
Empresas fictícias
Os ficheiros que começaram este domingo a ser divulgados mostram que há bancos responsáveis pela criação de empresas-fantasma, que são criadas como o exclusivo propósito de esconder a identidade de proprietários de grandes fortunas.
Ainda assim, ao consórcio que teve acesso aos documentos, a Mossack garante que "não favorece nem promove atos ilegais", não sendo responsável pelo que os clientes fazem com as offshores.
A empresa afirma que opera há 40 anos acima de qualquer crítica ou ilegalidade e nunca foi acusada de qualquer ato criminoso.
A Mossack Fonseca é uma das principais entidades responsáveis pela criação de empresas offshore, trabalhando de perto com outras firmas de advogados e bancos, de forma a ajudar a movimentar grandes quantias de dinheiros.