Numa década, Portugal - e o Norte em particular - cortou no insucesso escolar, reduziu o abandono para níveis próximos do europeu e disparou a cobertura da rede do Pré-escolar e o número de licenciados.
Os indicadores mostram uma evolução positiva e sustentada, só com um intervalo no arranque da crise. "Do que conheço do Norte, os resultados vão ao encontro da minha convicção ", diz Manuel Pereira que, a partir de Cinfães, dirige a Associação Nacional de Dirigentes Escola.
A melhoria começa no Pré-escolar. Em 2002, no Norte, a rede cobria menos crianças do que no resto do país mas, uma década depois, ultrapassou a média nacional. Um terço dos concelhos do Norte tinha Pré-escolar para todas as crianças e outro terço tinha uma rede maior do que a do resto do país. As falhas localizam-se sobretudo nas cidades maiores, sendo que a crise interrompeu o alargamento da rede, nota José Alberto Correia, diretor da Faculdade de Psicologia e Ciência da Educação do Porto, que pede novos investimentos, por parte das autarquias em colaboração com instituições de solidariedade. "Deve ser um serviço público, mas não necessariamente estatal", diz.
No outro extremo do ensino está o Superior. Os dados mostram que tanto a Região Norte quanto Portugal têm cada vez mais licenciados, beneficiando do "prestígio" que um diploma tem em Portugal e da criação de instituições de ensino em cidades médias e no interior do país, explica José Augusto Pacheco, presidente do Instituto de Educação da Universidade do Minho.
Ainda assim, os números nacionais continuam longe da média comunitária, até porque, nos últimos anos, as dificuldades financeiras das famílias afastaram muitas pessoas da universidade, adiantou José Augusto Pacheco. O professor chama, contudo, a atenção para o facto de Portugal estar mais concentrado na eficácia a curto prazo, nos resultados numéricos da frequência do Superior, do que na eficiência a longo prazo.
Mas há um outro indicador no qual tanto o Norte quanto Portugal estão quase ao nível do resto da Europa: os jovens que saem da escola sem acabar o Secundário. Em 2002, metade dos jovens do Norte deixavam a escola antes de completarem a escolaridade obrigatória; agora só 14% o fazem, tanto no Norte quanto na média do país. A descida acentuou-se quando o desemprego disparou, uma vez que os jovens deixaram de ter incentivo para sair da escola, nota José Augusto Pacheco. Note-se que, até 2020, Portugal deve baixar a taxa para 10%.
No Norte, a evolução foi igualmente positiva no insucesso escolar, medido pelas retenções e desistências, sobretudo no Secundário. Tal como na cobertura da pré-escola, nem todos os municípios conseguiram melhorar na mesma medida (ler próxima página). No global, destacam os dois docentes, a melhoria das infraestruturas, a avaliação das escolas, a discriminação positiva das regiões desfavorecidas através de projetos educativos especiais e a progressiva escolarização das famílias (sobretudo das mães) ajudam a cortar o insucesso. Apesar disso, hoje ainda reprova um décimo dos alunos, no Básico, e um sexto, no Secundário.
Os professores salientam, contudo, que apesar do investimento das últimas décadas, há ainda um longo caminho a percorrer para recuperar o atraso histórico do país.