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EUA querem interferir nos processos de decisão na Europa

Jorgo Riss, diretor da delegação europeia da organização Greenpeace LAURENT DUBRULE/EPA

O alerta é da organização Greenpeace: existe o perigo de interferência política dos Estados Unidos junto dos países da União Europeia no quadro do Acordo de Livre Comércio.

A delegação holandesa da organização ambientalista Greenpeace divulgou, esta segunda-feira, através da Internet, 248 documentos confidenciais referentes às negociações do Acordo de Livre Comércio e Investimento Transatlânticos (TTIP, na sigla em inglês).

Segundo a Greenpeace, o rascunho oficial das conversações indica que os Estados Unidos estão empenhados em interferir diretamente nos processos de decisão na Europa, ao nível da União Europeia e também junto de cada país.

"Por exemplo, se o parlamento de Portugal quiser debater ou votar um qualquer assunto, antes dessa proposta ser mandada para o parlamento, os Estados Unidos querem ser informados e pronunciar-se antes de os eleitores nacionais conhecerem os projetos ou propostas. Isto é muito preocupante e, além do mais, não funciona ao contrário, porque os Estados Unidos não admitem que a Europa faça o mesmo", disse à Lusa Faiza Oulahsen, porta-voz da Greenpeace Holanda.

Os documentos agora divulgados fazem parte do rascunho oficial, composto por mais de vinte capítulos, sendo que a Greenpeace conseguiu aceder a 13 capítulos com "texto consolidado", o que, segundo a organização ambientalista, significa que a União Europeia e os Estados Unidos têm já posições muito firmes e começam agora a formalizar o texto final do tratado.

A organização ambientalista Greenpeace pediu também a imediata suspensão das negociações sobre o Acordo de Livre Comércio e Investimento entre os Estados Unidos e a União Europeia.

"Nós estamos a tentar avisar as pessoas e apelamos à União Europeia para suspenderem as negociações e que se dê início ao debate. Pedimos acesso a todos os documentos porque nós só temos uma parte desses documentos. Precisamos de abertura total porque as pessoas têm o direito de saber o que está a ser negociado", disse a mesma porta-voz da Greenpeace Holanda.

"Os documentos mostram-nos a verdade, ao contrário do que a União Europeia está a divulgar, e o que é totalmente novo corresponde às posições dos Estados Unidos. É chocante ouvir a comissária Malmstrom (Comércio), assim como ministros em vários países a fazerem falsas promessas", sublinha.

Faiza Oulahasen, citando os documentos agora tornados públicos, refere-se nomeadamente a políticas de proteção ambiental, saúde e segurança alimentar alertando que as posições da União Europeia ou não são mencionadas à mesa das negociações ou "verificam-se mesmo" propostas que contariam o que já estabelecido nos países europeus.

Os documentos referem-se à 12.ª ronda negocial sobre o Acordo de Comércio e o investimento Transatlânticos que teve lugar em Bruxelas entre os dias 22 e 26 de fevereiro de 2016, tendo abordado os três pilares do acordo: acesso ao mercado, bases para a regulamentação e regras.

A seguir às reuniões de Bruxelas seguiram-se as negociações que decorreram na semana passada em Nova Iorque onde os representantes dos Estados Unidos e da União Europeia EUA mantiveram os temas abordados na Bélgica.

Redação