Marques Mendes fez esta semana uma fervorosa defesa do modelo em que recursos públicos são canalizados para financiar colégios privados, apesar de existir oferta do Estado nessas áreas. Para ilustrar a ideia, escolheu o exemplo de Santa Maria da Feira, opondo à escola pública de Paços de Brandão ("que tem vindo a perder alunos") o exemplo do Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas (que, sendo financiado pelo Estado, "está a rebentar pelas costuras").
A conclusão de Marques Mendes é simples: as escolas privadas são por natureza melhores ("não é por acaso que nos rankings as escolas públicas vêm todas cá para baixo") e o corte do financiamento público deixará o acesso à melhor educação apenas ao alcance dos ricos. Se a referência aos rankings reduz ao absurdo a defesa do indefensável, o exemplo escolhido prova a falácia do argumento. É que o Agrupamento de Escolas de Paços de Brandão recebeu em 2015, pela mão do ex-ministro Nuno Crato, um crédito de horas "pela eficácia educativa" e "redução do abandono escolar". Foi mesmo, de entre todos os agrupamentos do país, um dos oito que receberam a distinção máxima.
O caso de Santa Maria da Feira, a que se poderiam juntar tantos outros, é a imagem do assalto aos recursos públicos que este modelo representa. A lei é clara: os contratos de associação só se justificam se servirem para suprimir as insuficiências da rede pública. Não servem para financiar o negócio da educação privada. Qualquer outra interpretação significa apenas que pagamos duas escolas para a mesma população escolar.
Numa única coisa Marques Mendes tem razão: a discussão deve ser feita "retirando daqui o preconceito partidário e ideológico". Se assim fosse, certamente não assistiríamos ao triste espetáculo de uma direita para quem o Estado só é despesista quando está em causa o pagamento de prestações sociais.