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As histórias do voo MS804

Familiares das vítimas foram informados dos contornos do incidente no aeroporto do Cairo Mohamed Abd El Ghany/REUTERS

Perderam-se 66 vidas, dez delas da tripulação. A maioria dos passageiros do voo MS84 eram egípcios de regresso a casa.

E depois há os 15 franceses, muitos a caminho de férias. E as crianças, duas delas ainda bebés. E os que, como o português João David Silva, iam trabalhar. Histórias comuns.

Ajudou família a apanhar o avião

Sonia, uma funcionária do aeroporto Charles de Gaulle (Paris), contou à rádio francesa RTL como é que ajudou uma família egípcia a apanhar o avião da EgyptAir que partia em direção ao Cairo. Na noite de quarta-feira, 18 de maio, Sonia deu de caras com um casal e cinco crianças, quatro raparigas e um rapaz, no terminal 2, onde trabalha. Queriam apanhar o avião, mas o táxi tinha parado no sítio errado.

Sónia, solidária com a família que, como ela, vinha do norte de África, ligou para a companhia aérea a pedir para que o voo esperasse e indicou o caminho para o terminal correto. "Se conseguirmos, ainda bem. Se não conseguirmos, apanhamos o próximo", disse uma das meninas ao pai. Sónia espera que o avião tenha partido sem eles.

Desmarcou o voo à última da hora

Se alguns chegam à última da hora, outros optam por não partir à última também. Um homem entrevistado pela BFM TV cancelou a viagem que tinha marcado de Paris para o Cairo. Dele, não se sabe o nome, só se sabe que se sentiu "psicologicamente doente" quando soube do acidente, e que está "feliz por cá estar".

Dois amigos iam a bordo. Um ia casar-se, outro ao funeral da mãe.

Abdelaziz falou ao "Le Figaro" dos dois amigos que iam dentro do avião. Um ia casar-se. Outro ia ao funeral da mãe. Por agora, espera por informações no aeroporto onde na noite de quarta-feira os deixou, e pede solidariedade nacional. "Peço aos políticos que usem da palavra para mostrar que todas estas pessoas têm o apoio de França", apelou.

O militar a caminho do Chade para visitar a família

Um jovem militar, natural do Chade e residente em França, estava entre os passageiros. Fora autorizado a ausentar-se da academia militar de Saint-Cyr para visitar a mãe.

Ia em viagem de trabalho

Abdulmohsen al-Muteiri é professor de Economia e tem dois filhos. Viajava para o Cairo para participar numa conferência de três dias, contou ao "The Guardian" o sobrinho. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Kuwait já confirmou a nacionalidade do passageiro.

O geólogo apaixonado pelo Egito que acabara de ser pai

Richard Osman, 40 anos e único britânico embarcado, acabara de ser pai da segunda filha. Dera-lhe o nome de Olympe. A primeira tem apenas 14 meses. Formado em Geologia em Inglaterra, vivia em Paris com a esposa francesa, Aurélie. Ia para o Cairo em trabalho, como fazia muitas vezes.

Trabalhadores choram morte de diretor, um "ser humano excecional"

Ahmed Helal nasceu há 40 anos no Egito, para onde ia de férias, e tinha uma carreira de sucesso em França: dirigia a fábrica da Procter & Gamble (produtos de higiene e limpeza) em Amiens. "Estamos chocados. Perdemos um ser humano excecional. Chamava-nos de família. Estamos órfãos", contava ontem ao canal francês BFMTV o delegado sindical da fábrica, Pascal Grimaux.

O fotógrafo que quase não entrou no avião

O fotógrafo de rock Pascal Hess, de Evreux, perdera o passaporte há poucos dias. Até que alguém o encontrou. Chegou a hesitar viajar.

Rita Salcedas