2005

José Braga Gonçalves livre encerra "caso Moderna"

Paula Gonçalves *

"Omundo recomeça hoje!", afirmava, ontem, ao JN, José Braga Gonçalves, o único arguido que se encontrava a cumprir prisão efectiva no chamado "Caso Moderna", poucas horas após ter saído em liberdade condicional do Estabelecimento Prisional anexo à Polícia Judiciária, em Lisboa. Mas o recomeço foi também feito de ressentimentos. Sem avançar nomes, Braga Gonçalves lamenta um dos seus maiores erros "Foi, certamente, confiar nas pessoas erradas".

A sua libertação, depois de ter cumprido mais de metade da pena de sete anos e meio a que fora condenado, representa o encerramento definitivo do processo Universidade Moderna. "Para mim, hoje é o dia 2 de Novembro de 1755. No dia 1 foi o terramoto, agora vai começar a reconstrução", o que, no caso de José Braga Gonçalves, acontece já em breve com o lançamento do seu segundo livro, escrito na prisão. "Príncipe Rosa-Cruz" é um romance de ficção histórica precisamente sobre a reconstrução de Lisboa depois do terramoto e a influência da maçonaria nesse processo.

Os próximos dois dias serão, aliás, dedicados em exclusivo a essa obra, para "fechar as provas finais". Essa é por agora a sua prioridade. "O passado está no passado", sublinhou ao JN, justificando assim não estar disponível para falar do processo que o levou à cadeia, em Junho de 2001. Contudo, à agência Lusa, fala de traições e de contas a ajustar, embora sem concretizar nada. "Se os amigos traíram é porque nunca foram verdadeiramente amigos. Sendo a traição uma mera revelação de carácter, digo que revelações dessas tive várias".

Quatro anos preso

A liberdade condicional do homem forte da gestão da Universidade Moderna surge depois de ter cumprido mais de metade da pena, requisito exigido para beneficiar desse regime. Como explica ao JN o seu advogado, António Lamego, já no início deste ano (em Fevereiro ou Março) esse prazo tinha sido atingido, reunindo José Braga Gonçalves os requisitos para a liberdade condicional. No entanto, não pode beneficiar dessa situação por, na altura, ainda se encontrar em prisão preventiva, por estar pendente um recurso da sentença no Supremo Tribunal de Justiça, em que era pedida a sua absolvição, como aconteceu com os restantes 12 arguidos. "O recurso apresentando pelo Ministério Público foi rejeitado, o nosso estaria ainda em apreciação", refere António Lamego. Mas acabaram por desistir em Maio deste ano, pois só assim José Braga Gonçalves poderia entrar em cumprimento de pena e consequentemente beneficiar do regime de liberdade condicional, o que se concretizou ontem, com a sua saída, cerca das 13.15 horas, do Estabelecimento Prisional anexo à PJ.

Ao fim de quase quatro anos de prisão, Braga Gonçalves assumia, em declarações à Lusa, estar um homem "mais grisalho, mais magro" e "talvez menos confiante nas pessoas", mas também "mais ambicioso intelectualmente" e "mais calado".

O dia de ontem ficou, segundo afirmou ao JN, reservado para estar com a família, referindo em concreto aos filhos. Nos próximos dois dias "vou ficar fechado em casa" a ultimar o segundo livro "Príncipe Rosa-Cruz", escrito em conjunto com a sua esposa, Sofia Serra, e que tem prefácio de Teresa Paixão, assim como um texto da autoria de Rui Veloso. Segundo a classificação de Teresa Paixão, citada por Braga Gonçalves, este é um livro "sobre um magote de homens para ser lido por mulheres".

Mas José Braga Gonçalves promete não ficar por aqui. Diz já estar a trabalhar na próxima obra, um "thriller" passado em 2005, cuja história "mete advogados e heranças". Este é também um projecto que, segundo diz, está delineado há muito".

* com agência Lusa

Cronologia

Março/1999

PJ desloca-se à Universidade Moderna e apreende documentos.

Abril/2000

José Júlio Gonçalves, então reitor, é detido, tal como os seus dois filhos, João e José Braga Gonçalves, e ainda o secretário-geral da Universidade Moderna, José Vitoriano. Após 12 horas de interrogatório, são libertados.

Junho/2001

A juíza de Instrução Criminal ordena a prisão preventiva dos quatro arguidos.

Outubro

Final do debate instrutório, com a juíza Conceição Oliveira a decidir pronunciar os 13 arguidos.

Abril/2002

Início do julgamento no Tribunal de Monsanto.

Novembro/2003

Leitura da Sentença. Só dois dos arguidos são condenados. A José Braga Gonçalves é aplicada a pena de 12 anos de cadeia, enquanto Pedro Garcia Rosado é condenado a três anos.

Junho/2004

Tribunal da Relação de Lisboa reduz a pena de Braga Gonçalves para sete anos e seis meses de cadeia e a de Pedro Garcia Rosado para dois anos, suspensa por um período de três.

Redação