Durante três anos, uma jovem de Recarei, em Paredes, deu entrada 11 vezes no serviço de Urgência do Hospital Padre Américo, em Penafiel.
Em todas as ocasiões, os médicos apresentaram o mesmo diagnóstico: estado de ansiedade. Sara, 19 anos, acabou por morrer, dois dias depois da última passagem pelo hospital. A autópsia revelou um tumor com 1,670 quilogramas alojado na cabeça. Os pais exigem justiça e avançaram para tribunal.
Apesar de a rapariga vomitar, ter perdas de consciência e não controlar a urina, nunca a submeteram a uma tomografia axial computorizada (TAC) ou ressonância magnética. Os pais de Sara Moreira alegam que houve negligência médica, numa ação administrativa para efetivação de responsabilidade civil extracontratual contra o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), ao qual pertence o Hospital Padre Américo.
"Não perdoamos os médicos. Perdemos uma filha que, se fosse tratada, ainda poderia estar connosco", referem Mário Moreira e Maria de Fátima Silva.
Ao JN, ambos recordam que os problemas da filha começaram em 2010, com fortes dores de cabeça. E foi logo em fevereiro que, pela primeira vez, a rapariga, então com 16 anos, se dirigiu ao serviço de Urgência do Hospital Padre Américo. Nos anos que se seguiram as dores de cabeça tornaram-se mais fortes e a elas juntaram-se as perdas de consciência, os vómitos e a incontinência do esfíncter urinário.
"Numa das vezes, a minha filha chegou a desmaiar quando estava a ser observada pelo médico", garante Maria de Fátima Silva. Mesmo assim, o diagnóstico e a medicação mantiveram-se. "Cheguei a pedir aos médicos para lhe fazerem exames. Mas diziam-me que só andava nervosa por causa dos estudos", lembra a mãe. "Ela vinha para casa e chorava muito. E nós ficávamos sem saber o que fazer", diz o pai.
Só entre 11 e 14 de junho de 2012, Sara foi assistida na urgência três vezes e em janeiro do ano seguinte não passou uma semana entre as duas ocasiões em que passou pelo hospital. A última das quais foi a 8 de janeiro, dois dias antes de morrer em casa. "O que me revolta é ela não ter feito qualquer exame que pudesse ajudar a descobrir a doença", desabafa Mário Oliveira.
Contactados pelo JN, os responsáveis do CHTS salientam que "os factos ocorreram num período anterior à tomada de posse do atual Conselho de Administração". O presidente Carlos Alberto Vaz acrescenta, em seguida, que "considerando que decorre um processo no Tribunal de Penafiel, encontrando-se o mesmo em segredo de justiça", o hospital não pode pronunciar-se "sobre as questões colocadas".