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Contra a retórica de Trump, 100 mulheres tiraram a roupa

Spencer Tunick fotografou mulheres despidas com espelhos nas mãos na véspera da convenção do Partido Republicano, em Cleveland.

O fotógrafo norte-americano Spencer Tunick só tinha um requisito para mais uma instalação saída da sua cabeça e com uma intensa carga simbólica. Tinham de ser mulheres, independentemente de cor política ou de pele. Mulheres que se despissem para, através da arte, mostrarem a sua raiva "contra a retórica repressiva de ódio" de Donald Trump e seus seguidores, patente sobretudo nos discursos sobre o sexo feminino e minorias. Na véspera do arranque da convenção, que deverá confirmar Trump como candidato republicano para as eleições à Casa Branca, 100 mulheres despiram-se, seguraram espelhos nas mãos, e foram fotografadas em imagens que estão a dar a volta ao Mundo.

As fotos foram captadas às primeiras horas da manhã de domingo em Cleveland, Estados Unidos, onde ainda decorre a convenção nacional do Partido Republicano. Perto das margens de um rio, num descampado. As mulheres tinham nas mãos, e sobre as suas cabeças, discos de espelhos. A revista norte-americana Esquire acompanhou o momento. Pouco passava das seis e meia da manhã quando Tunick começou a disparar com a máquina fotográfica. A sessão durou menos de meia hora. Chegou e disse: "O Partido Republicano tem dado desculpas para odiar. Nós temos filhas e queremos que elas cresçam numa sociedade com direitos iguais para as mulheres". Depois, contou até três para as participantes tirarem as roupas.

Tunick já tinha explicado o conceito. Os espelhos serviriam para refletir o conhecimento e a sabedoria das mulheres progressistas para o interior do espaço onde, até quinta-feira, decorre o encontro político, o pavilhão Quicken Loans. E não só. Refletir a natureza, o sol, o céu e a terra, para toda a cidade e horizonte em redor. Um protesto pacífico, de corpos nus, com uma mensagem forte. Bater o pé aos discursos de Trump e companhia que atingem diretamente as mulheres.

A criação coletiva, artística e silenciosa - captada pela lente do fotógrafo que regista corpos nus em várias partes do Mundo -, faz parte do projeto de Tunick intitulado "Everything She Says Means Everything". "Tenho duas filhas - 9 e 11 anos - e quero que elas cresçam num mundo progressista, com igualdade de direitos e de salários, com trate melhor as mulheres. Sinto que 100 mulheres iluminando o céu de Cleveland enviarão esse raio de conhecimento sobre a paisagem urbana", adiantou Tunick à Esquire. "Acho que vai iluminar não só os delegados, mas definir a vibração do fim de semana, definir um tom", acrescentou.

Antes de Cleveland, Spencer Tunick tinha fotografado, a 9 de julho, 3200 corpos nus e pintados de azul na cidade britânica de Hull, que será Capital Europeia da Cultura no próximo ano. O fotógrafo inspirou-se na relação de Hull com o mar. Daí o azul nos corpos dos voluntários. A todos os participantes nas suas sessões, Tunick oferece um exemplar de uma das fotos captadas pelo seu olhar.