Portugal é um dos países da Europa onde os jovens com idades até aos 16 anos mais consomem medicamentos sedativos ou tranquilizantes com receita médica.
Segundo o estudo "European School Survey Project on Alcohol and other Drugs (ESPAD)", que apresenta as grandes tendências de consumo de álcool e drogas por alunos com idades até aos 16 anos, entre 2011 e 2015 na Europa, a percentagem de consumidores de medicamentos sem receita médica está estabilizada nos 6%, sendo mais baixa em Portugal (5%).
A situação inverte-se quando se trata de medicamentos sedativos ou tranquilizantes com receita médica, pois embora este consumo esteja também estabilizado, Portugal apresenta níveis mais elevados do que o resto da Europa, respetivamente 13% e 8%.
"Este é um resultado que para nós acaba por ser algo que nos motiva preocupação. Temos a noção clara de que é uma área em que temos que melhorar", disse o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, aos jornalistas, à margem da apresentação do relatório.
O governante adiantou que está a ser estudado, em conjugação com os médicos de família e todos os profissionais dos cuidados de saúde primários, este novo fenómeno e soluções possíveis para o problema. "Temos que perceber que tipo de jovens são estes que estão a obter estes sedativos através de receitas medicas, para que patologias, e encontrar mecanismos diferentes para responder às suas necessidades", afirmou.
"Temos que discutir com os médicos alternativas não farmacológicas que conseguem obter resultados iguais ou melhores, que outros países estão a usar, como encontrar e integrar psicólogos e nutricionistas nos cuidados de saúde primários", acrescentou Fernando Araújo.
No mesmo sentido, João Goulão, diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), considerou que o "abuso da medicação prescrita exige atenção redobrada, um outro olhar para a questão, perceber que mecanismos subjazem a esse abusos, perceber se há alternativas e se os médicos prescritores poderão deitar mão a alternativas terapêuticas que não passem necessariamente pelo uso de substâncias psicoativas".
De acordo com o estudo, em 2015, os países com maiores percentagens de consumos de medicamentos sedativos com receita médica foram a Letónia (16%) e Portugal (13%).
Quanto ao consumo do mesmo tipo de medicamentos sem receita médica, destacaram-se a Polónia (17%) e a República Checa (16%).
Globalmente há mais raparigas do que rapazes a consumir medicamentos.
Também o "Estudo sobre os Consumos de Álcool, Tabaco, Drogas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências-2015", do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), apresentado em março, já tinha dado conta desta tendência "preocupante" em Portugal.
Na altura foi revelado que uma em cada cinco raparigas com idades entre os 13 e os 18 anos tomava tranquilizantes ou sedativos, a maioria com prescrição médica.
Fernanda Feijão, autora daquele estudo, considerou na altura que era importante perceber "como é que há uma percentagem tão elevada de raparigas a precisar de medicamentos".
A responsável indicou que este é um indicador em que "costumamos estar acima da média europeia".