2007

Há um novo monstro na família do cinema

Oque leva mais de 12 milhões de pessoas a ver um filme de monstros produzido no seu país? A resposta é simples "The Host - A criatura" é muito mais do que um filme de monstros. Ou melhor, é um excelente filme de acção/aventuras com uma nova criatura horrenda capaz de provocar choque, mas que faz denúncia política e social de uma forma invulgarmente profunda - e, além do mais, ainda tem excelente humor. O fenómeno é coreano e traz louvores por onde quer que passe. Hoje chega às salas portuguesas.

Realizado por Bong Joon-ho, um relativo desconhecido mesmo para o cinema asiático, "The host" parte de um caso real ocorrido em 2000, quando um oficial das forças americanas estacionadas na Coreia mandou despejar no rio Han, em Seul, 400 garrafas de um produto altamente tóxico. A partir desse facto, o cineasta Joon-ho imaginou uma delirante ficção um bicho marinho é apanhado pelo produto e cresce desmesuradamente para uma forma anfíbia mutante - e desata a atacar os incautos coreanos.

Enquanto uma família tenta desesperadamente encontrar a sua filha, levada pelo viscoso mutante, este acabará por se tornar também vítima acossada dos seus perseguidores.

Fenómeno veio de Cannes

O jovem autor do filme, mais um da miríade de grandes promessas com que o cinema asiático vem conquistando o espaço do chamado 'world cinema', por contraponto com Hollywood e as maiores cinematografias do espaço europeu, apresenta-nos um monstro credível e uma envolvente narrativa dramática, elevada à dimensão da tragédia.

Revelado pela primeira vez na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes - espaço privilegiado de novos autores que funciona como 'best of' da colheita anual -, "The host" provocou desde logo alvoroço na crítica internacional, com a influente publicação americana "Variety" a não ter dúvidas "Nunca houve um filme de monstros como 'The host'".

De então para cá, o fenómeno cresceu, com a "New York Maganize" a decretar que se trata de "um dos melhores filmes de monstros já realizados" e o site Ain't It Cool News a alinhar pela mesma ideia "Está à altura de 'Tubarão'". Em Espanha, onde o filme já estreou, as palmas são semelhantes: "Inteligente, imprevisível e tecnicamente deslumbrante" (El Pais); "Descomunal e operático, selvagem e irónico" (El Periódico).

O melhor depois de 'Alien'?

Este novo monstro - já muito popular no circuito de distribuição paralela de DVD - é, em certo sentido, a mais apetecível besta que surge no cinema desde "Alien", monstro do espaço que Ridley Scott nos apresentou em 1979 e que deu origem a quatro sequelas. Mas a obra mistura essa ameaça com duas outras figuras iconográficas o mutante nuclear de "Godzila", criado por Ishirô Honda em 1954); e o afiado marinho de Spielberg, "Tubarão" (1975).

Mas o filme de Bong, apesar do nível de terror e reais sustos que contém, distancia-se daqueles pela sua curiosa construção dramática além de convocar um tipo desconcertante de humor a sua filiação é próxima do surrealismo de "Família à beira de um ataque de nervos"), revolve essencialmente à volta da ideia de redenção de uma família que encontra aqui pretexto para se voltar a unir.