Perante uma produção como "Quico - O pequeno herói" torna-se difícil escrever o que quer que seja sem colocar em cima da mesa uma componente emocional muito forte. É que o filme é um projecto em que estavam envolvidos Christopher Reeve, o "Superman" que numa trágica ironia se vira confinado a uma cadeira de rodas, e a sua esposa, Dana Reeve. Ambos morreram sem ver a estreia do filme - ele a 10 de Outubro de 2004, aos 52 anos, e ainda a meio da produção; ela, que surgia como produtora, deixou-nos a 6 de Março de 2006, a poucos dias de completar 45 anos, vítima de cancro nos pulmões.
Mas quem é então este Quico, o pequeno herói cuja história Christopher Reeve tanto se empenhou em nos contar? Trata-se de um garoto de dez anos que vive na América da Grande Depressão e, como muitos rapazes da sua idade, tem uma grande paixão pelo basebol e idolatra Babe Ruth, a estrela do momento, na modalidade preferida dos americanos.
Como o pai trabalha no estádio dos Yankees, leva-o por vezes aos balneários, para que ele veja o taco preferido de Babe Ruth, que lá se encontra pendurado. Infelizmente, Stanley é despedido após uma dessas visitas coincidir com o misterioso desaparecimento do objecto de culto, na véspera da final do Campeonato do Mundo, entre os Yankees e os Chicago Cubs.
Decidido a ajudar o seu pai, Quico parte à procura do objecto perdido, com a ajuda de Screwie, uma bola de basebol falante. Mas, como estamos no domínio da imaginação pura, o taco também fala e sabe bem quem o roubou. O pior é que sem ele Babe Ruth nunca conseguirá resolver o jogo decisivo a favor dos Yankees...
Para toda a família
Animação digital tendo humanos como algumas das personagens centrais, "Quico - O pequeno herói" ("Everyone's hero") cumpre o que se espera de um filme desta natureza, das questões plásticas e técnicas à mensagem humana que nos transmite.
Para os mais novos, o "efeito" Christopher Reeve não é significativo, porque decerto não saberão quem era o actor, e talvez o facto de abordar o mundo do basebol, modalidade um pouco esotérica para os europeus, possa atenuar o seu impacto, mas nesta fase final das férias grandes, é uma das últimas possibilidades de juntar a família numa sala de cinema antes do regresso às aulas.
Não foi fácil a vida de Christopher Reeve, actor reconhecido pelo papel de Super- Homem, que representou quatro vezes, de 1978 a 1987. Mas ambicionava a outros voos e era tão exigente consigo próprio que recusaria entrar em filmes que seriam interpretados por actores como William Hurt, Mel Gibson, Richard Gere ou Schwarzenegger. Mesmo assim, trabalhou ainda com realizadores exigentes como James Ivory ou Sidney Lumet. A 25 de Maio de 1995, com 42 anos, sofreu uma queda de um cavalo que o deixou tetraplégico, obrigando-o a viver dez anos confinado a uma cadeira de rodas e ventilação artificial. Dedicou esse período a lutar por um aumento de fundos para a investigação associada ao transplante de medula, mas nunca deixou de trabalhar, protagonizando um 'remake' televisivo do clássico de Hitchcock, "Janela indiscreta" e dirigindo dois telefilmes.