Parece um país a fazer de conta. Armas desaparecem de uma base militar e nada acontece de relevante, a não ser cinco militares exonerados temporariamente durante uma entrevista televisiva, sem terem sido antes sequer contactados. Serve, este caso, para pôr um pouco mais a nu este lugar onde vivemos. A cada oportunidade, ouvimos os políticos falar de inovação e depois, fica-se agora a saber, há armamento de guerra e explosivos depositados sem qualquer controlo. Não havia videovigilância nos Paióis Nacionais de Tancos. É mau. Mas na falta de tecnologia, seria razoável a existência de sentinelas em locais sensíveis como este. Os paióis estavam sem guarda. E alguém, seguramente, sabia dessa fragilidade.
Um assalto a paióis do Exército julgar-se-ia impensável ocorrer num país civilizado, da União Europeia. Mas, como o presidente da República fez questão de lembrar - numa tentativa de desvalorizar a gravidade dos factos -, não é de Portugal o exclusivo do desleixo. Situações semelhantes acontecem. Marcelo Rebelo de Sousa, na qualidade de chefe do Estado, é também o comandante supremo das Forças Armadas, pede uma investigação ao caso. E se existe alguma ligação entre o furto de Tancos e outros dois ocorridos, "nos últimos dois anos, em países membros da NATO, um deles há poucos meses", bom, podemos respirar de alívio.
O assunto é demasiado sério para ser desvalorizado. E depois da tragédia de Pedrógão - quando Portugal incrédulo perguntava: como foi possível? -, medidas as devidas proporções (neste caso, não se perderam vidas), devemos de igual modo questionar: como chegámos aqui? Porque, provavelmente, a incúria tomou conta da segurança do país.
Nas instalações, de que fazem parte os vinte paióis de onde o material de guerra desapareceu, sabemos agora, havia dez militares. Esses militares, sabe-se também, encontravam-se armados. Aparentemente, apenas com um intuito dissuasor: as armas não tinham munições. António Costa pode continuar de férias e Azeredo Lopes à frente da pasta da Defesa. Parece não fazer grande diferença. Recordemos Raul Solnado e façamos-lhe uma homenagem. A sua guerra imaginada afinal está a acontecer. Se não fosse perigoso, tinha a sua graça.
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