Um cérebro humano pesa, em média, 1,4 quilos e é habitado por cerca de cem mil milhões de neurónios. Não consta que haja relação entre o peso do cérebro - ligeiramente menor nas mulheres - e as suas competências.
No entanto, a Porto Editora editou dois cadernos de exercícios para crianças dos 4 aos 6 anos que distinguem rapazes de raparigas - na cor, no imaginário associado mas sobretudo na complexidade.
A distinção nem é nova, mas desta vez a polémica rebentou nas redes sociais. A Rede de Jovens para a Igualdade, associação sem fins lucrativos que se define como promotora do "mainstreaming de género na juventude", foi a primeira a denunciar o caso. Na sua página de Facebook explica que se trata de um "estereótipo de género" que tem "um efeito limitador em toda a sociedade e em todas as idades mas que é particularmente perigoso quando influencia desta forma a educação".
A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), também no Facebook, diz já estar a "analisar as referidas publicações, para agir em conformidade", informação que confirmou ao JN.
"Para as mentes brilhantes que os pensaram, meninas e meninos não podem realizar as mesmas atividades. Para abrilhantar a coisa, as tarefas das meninas envolvem princesas à procura de coroas em labirintos básicos; já as dos meninos convocam marinheiros à procura de barcos em labirintos mais complexos. Tudo classificado com azul e cor-de-rosa para que não exista qualquer confusão de género", criticou a Associação Feminista "Capazes".
Sara Falcão Casaca, professora e especialista em questões de igualdade de género, também deixou um protesto nas redes. "Já sabíamos como a mesma editora descrevia mulher e homem no dicionário. Não aprendeu, apesar das reclamações".
Porto Editora rejeita acusações
"Discriminação e preconceito nas nossas edições? Não, de todo.". Assim começa a resposta à polémica da editora, publicada via Facebook.
A empresa explica que as edições foram publicadas em julho de 2016 e "têm como objetivo desenvolver determinadas competências essenciais em idade pré-escolar, nomeadamente a atenção e a concentração". E acrescenta que "em ambas as edições são trabalhadas as mesmas competências, na mesma sequência e com exercícios semelhantes. A diferença está na ilustração e na abordagem artística que as diferentes ilustradoras fizeram. E se há um exemplo em que o exercício no caso das meninas é aparentemente mais fácil, há vários outros em que os exercícios são aparentemente mais difíceis", garante.
É por isso que, continua a Porto Editora, apesar de compreender "a preocupação que estará na origem desta polémica", já que também se identifica "com os valores da igualdade e da diversidade", que a empresa assegura que "as publicações não refletem uma visão discriminatória e preconceituosa"