Não vamos gastar mais páginas para dizer que o rasto de fogo em Portugal, as suas vítimas e a sua prevenção são próprios de um país do Terceiro Mundo. Que gasta milhões e milhões de euros num sistema de Proteção Civil e não dá resposta, que se desorienta, com negligência da grossa à vista desarmada e onde os responsáveis se escondem por detrás dos bombeiros que estão na frente da batalha, voluntariosos e esgotados.
O Governo não pode fugir à responsabilidade política após a morte de 100 pessoas por causa dos incêndios no espaço de apenas quatro meses. O problema são as condições climatéricas adversas? Não explica tudo. A ministra da Administração Interna tem de demitir-se ou ser demitida, sabendo de antemão que essa é a menor das decisões. Houve um falhanço completo por aqueles que têm a responsabilidade de proteger as populações e os seus bens e é a partir daí que se tem de tirar as ilações.
O que se conclui é que, nestes últimos anos, tivemos sorte. Os problemas dos incêndios em Portugal estão enraizados, identificados e sabidos. Fosse este ou outro Governo, a rede de Proteção Civil, os responsáveis pela prevenção da floresta, a estrutura organizativa do Ministério da Agricultura, em vez de fazer o seu trabalho, enredaram-se em distribuição de favores políticos.
O resultado está à vista e não será fácil reconstruir um sistema de prevenção e combate aos fogos eficaz, com gente capaz e com as políticas certas. Uma tarefa ciclópica que começa na mentalidade da população e termina na responsabilidade de quem governa.
O primeiro-ministro apareceu na madrugada de segunda-feira a pedir tempo, a dizer que não há soluções mágicas e a avisar que a situação que estamos a viver vai prolongar-se para os próximos anos. António Costa proferiu estas palavras sem ter noção da dimensão do desastre que estamos a viver. A desorientação na Proteção Civil chegou ao primeiro-ministro e isto é grave.
O luto e a impotência são o que sobra deste desastre nacional e António Costa parece não ter respostas no imediato. Em Pedrógão Grande, a tragédia foi enorme, mas circunscrita a uma zona de quatro concelhos. Nos últimos dois dias, e após a morte de 36 pessoas em vários incêndios espalhados pelo país, a conclusão é óbvia. O problema é nacional e não é bom. Até quando?
EDITOR-EXECUTIVO