Já perdi a conta ao número de vezes que a palavra "TOP" é usada em conversas frugais entre pessoas que partilham o mesmo oxigénio e em posts sentidos no Facebook entre pessoas que partilham o mesmo algoritmo. Ser TOP, hoje, é ser, simultaneamente, uma coisa extraordinária e uma tremenda vulgaridade. Tanto é TOP o médico que descobre a cura para uma doença terrível como é TOP um suporte para telemóvel. Tenho saudades do tempo em que usávamos as palavras "fabuloso", "estupendo" e, com algum decoro, "assombroso" ou "descomunal". Os termos tinham realmente valor, peso, estrutura, sentido. Experimentem dizer à vossa cara-metade que ela ou ele é "reluzente", em vez de lhe lançarem um elogio preguiçoso como "more, tu és TOP". Fará maravilhas pela autoestima de ambos. O TOP veio ocupar o espaço que outrora pertenceu ao "bué", ao "baril", ao "tótil" e ao "brutal". Mas para pior. E anda na boca de todos: dos pré e dos adolescentes, dos adultos e da malta mais entradota. De tal maneira que já se aportuguesou. Para tope. A banalização do substantivo masculino que significa "topo, a parte mais alta" foi tal que quase nos fez esquecer que um tope também é uma peça de vestuário feminino, geralmente sem mangas, que cobre o tronco. A todos os que estão tentados a arriscar uma graçola marialva ("o teu tope é tope"), só tenho a comunicar o seguinte: sTOP!
*JORNALISTA