Manuel Molinos

Más companhias

A melhor altura para terminar um relacionamento romântico é nas duas semanas anteriores ao Natal. Mas também há uma grande probabilidade de conseguirmos sair melhor de uma relação se a rompermos duas semanas depois do Dia dos Namorados. A conclusão não é extraída de nenhum estudo de uma instituição universitária nem resulta de qualquer documento científico. É mesmo do Facebook, que chegou a esta ilação de acordo com dados recolhidos entre 2010 e 2011. Na altura, ninguém questionou a gigante tecnológica sobre como tinha chegado a esta tese.

Mas os últimos dias não têm sido fáceis para o Facebook que, nunca como até aqui, se vira debaixo de tanto fogo cruzado. Depois do escândalo com o uso indevido de dados de 50 milhões de utilizadores norte-americanos, a rede social mais utilizada do mundo foi acusada esta semana de registar chamadas telefónicas e mensagens enviadas por smartphones com sistema operativo Android. A denúncia foi feita por um utilizador da Nova Zelândia que, na sequência do caso Cambridge Analytica, estava a verificar que dados o Facebook recolhera sobre ele e descobriu que dois anos de metadados de telefonemas de seu equipamento Android, incluindo nomes, números de telefone e a duração de cada chamada feita ou recebida, tinham sido guardados. O Facebook respondeu e negou que tenha registado dissimuladamente dados de chamadas. Recordou, no entanto, que usa os nossos contactos telefónicos como parte do seu algoritmo de recomendação de amigos e nas versões mais recentes do Messenger solicita permissões para fazer registos.

Mas quem está de facto preocupado que os nossos dados estejam às mãos de semear? Não é o utilizador comum. Longe disso. A política de proteção de dados está sobretudo a preocupar os anunciantes, que começam a manifestar algum desconforto e nervosismo por estarem associados a um meio que usa informações pessoais, um abuso que se agrava quando favorece políticos. Elon Musk, dono da Tesla e da Space X, foi dos primeiros a abandonar o Facebook. Seguiu-se o grupo americano Playboy e a associação que representa os anunciantes britânicos vai desaconselhar os anúncios na rede, caso se prove que houve uso indevido dos dados dos utilizadores.

Só assim se entende os dois pedidos de desculpa de Mark Zuckerberg em apenas uma semana e a rapidez a anunciar novas funcionalidades para proteger os utilizadores.

* SUBDIRETOR

MANUEL MOLINOS