2008

Iraque/5 anos: Petróleo foi um dos motivos da guerra, que pouco influenciou escalada actual preços

Lisboa, 18 Mar (Lusa) - O petróleo foi um dos factores que contribuiu para a intervenção militar no Iraque por parte da coligação internacional liderada pelos EUA, mas a influência desta acção na actual escalada dos preços é questionável, com analistas a apontarem outros factores.

Cinco anos depois do início da guerra no Iraque, os dados estatísticos mostram que a escalada do preço do petróleo, cujo barril custa já mais de 110 dólares, começou apenas no final de 2006, com os cortes de produção por parte da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP).

No início da guerra, a 20 de Março de 2003, faz quinta-feira cinco anos, o preço do barril do petróleo WTI (West Intermediate Texas), cotado em Nova Iorque, situava-se na casa dos 28 dólares, tendo ultrapassado o patamar dos 40 dólares apenas no início de 2004, com a redução para 1 milhão de barris por dia, da capacidade excedentária a nível mundial.

Vários especialistas contactados pela agência Lusa coincidem na análise de que é hoje difícil saber qual o peso da guerra no Iraque na actual escalada dos preços do petróleo.

"Não sei", afirmou peremptoriamente Ângelo Correia.

O especialista afirma que, no início do confronto militar, o Iraque "teve influência nos preços, porque a produção foi interrompida, mas hoje não se pode dizer que seja por causa do volume de produção do Iraque que os preços estão a subir".

Ângelo Correia defende que os preços são hoje, sobretudo, determinados pela instabilidade em algumas regiões do mundo, "onde a relação com os norte-americanos e o Ocidente é débil", e com "o aumento do consumo por parte da China e da Índia".

O especialista afirma ainda ter "dúvidas" de que o preço desça caso a guerra no Iraque termine.

O início da intervenção militar provocou uma quebra significativa da produção de petróleo oriunda do Iraque com a danificação do oleoduto que liga o principal campo petrolífero do país, perto de Kirkuk, ao porto turco de Ceyhan.

Apenas na Primavera de 2004 foi possível retomar os níveis de produção de antes da guerra, em 2,5 milhões de barris por dia, mas duvida-se que o Iraque volte a atingir o seu pico de produção de 3,4 milhões de barris por dia antes de 2009, refere o jornalista e especialista do mundo islâmico Dilip Hiro.

Agostinho Pereira de Miranda, advogado especialista em questões de petróleo, não tem dúvidas de que o petróleo foi um dos factores determinantes para a invasão do Iraque.

"O pendor expansionista do Iraque poderia ter tido, muito provavelmente, um efeito destruidor da própria OPEP, e penso que essa terá sido, no plano estrito do petróleo, a grande razão que terá conduzido à primeira guerra do Golfo e terá tido um papel muito importante na segunda", afirmou em declarações à Lusa.

A actual produção petrolífera do Iraque, em cerca de 2 milhões de barris por dia, é, de acordo com o especialista, muito importante, pois é, precisamente, a capacidade extra que a OPEP possui para fazer face a imponderáveis.

"A produção do Iraque é da maior importância. Significa hoje a diferença entre termos um mercado com um excesso marginal de oferta e um mercado totalmente apertado", afirmou.

"Pensa-se que neste momento, a almofada que a OPEP tem anda na casa dos 1,5 a 2 milhões de barris diários, o que significa que se por qualquer razão o Iraque ou qualquer outro país deixar de produzir, isso pode ter um efeito extraordinariamente acelerador do preço", argumentou.

A investigadora do Instituto de Defesa Nacional (IDN), Maria Francisca Saraiva, tem também dúvidas sobre a actual influência da guerra do Iraque nos preços do petróleo.

"Eu própria tenho essa dúvida. Parece-me que há uma enorme margem de especulação, mesmo que o fluxo do petróleo oriundo do Iraque tenha diminuído", afirmou.

A importância geopolítica do Iraque "prende-se mais com os oleodutos que passam pelo Curdistão iraquiano" e com a segurança do aprovisionamento da passagem do "petróleo que poderá vir do Mar Cáspio para o Ocidente, em alternativa ao Golfo Pérsico", defendeu.

Uma coisa é certa, defende o analista James Williams, da WTRG Economics, cerca de 30 dólares do actual preço do barril corresponde ao prémio de risco geopolítico e ao prémio especulativo.

Por outro lado, a pressão da procura de petróleo por parte dos países emergentes - China, Índia, Brasil - vai continuar.

A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a procura atinja este ano, em média, os 2,2 milhões de barris diários, face aos 1,5 milhões de barris de 2007.

ACF.

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