É tempo de redescobrirmos Manuel António Pina

É tempo de redescobrirmos Manuel António Pina

No mês em que se assinala o 75.º aniversário do seu nascimento, Manuel António Pina vai alvo de uma homenagem ampla. As jornadas "Desimaginar o Mundo" decorrem entre os dias 16 e 21 no Porto, Lisboa e em São Paulo.

O poeta. O autor de livros para crianças. O cronista. O contador nato de histórias. Todas essas facetas (e mais algumas) vão ser evocadas nas jornadas "Desimaginar o Mundo", uma homenagem a Manuel António Pina (MAP), que se vai desenrolar no Porto, Lisboa e São Paulo entre os dias 16 e 21, por ocasião do 75.º aniversário do seu nascimento.

Coordenado pelas investigadoras Rita Basílio e Sónia Rafael, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, o programa quer "aproximar os mundos das artes e das letras".

PUB

Prova disso são as exposições "Desimaginar o Mundo, Descriá-lo...", patentes na Estação da Trindade e no Mira Fórum, em que fotógrafos e ilustradores foram desafiados a conceber uma obra original a partir de um poema do autor. Na Biblioteca Almeida Garrett, por sua vez, vai ser possível visitar "Os Livros", mostra de teatro e de ilustração que resulta de uma homenagem de estudantes do Ensino Básico ao Ensino Superior.

A ideia de dedicar um extenso programa de homenagens ao Prémio Camões 2011 há muito que era acalentada por Rita Basílio. Depois de ter desenvolvido a primeira tese de doutoramento sobre a poesia de MAP, a investigadora quis continuar ligada a uma obra com a qual mantém uma relação de "fascínio absoluto". Surgia assim o projeto de pós-doutoramento, a que se irá dedicar nos próximos quatro anos, com o objetivo de provar que "é possível fundir as artes visuais e a literatura", à imagem da "desconstrução permanente" dos seus livros.

Muito por explorar

No último ano, Rita Basílio contactou dezenas de especialistas e amigos do escritor, urdindo um programa que quer ir além do público académico. "A ideia inicial era juntarmos as ações num espaço, até porque o conceito de "casa" está muito presente na sua escrita. Não o conseguimos e tivemos que disseminar as iniciativas, mas até acabou por ser mais interessante", diz Rita Basílio.

Entre os participantes do colóquio marcado para dia 20 está Rui Lage. O poeta irá falar sobre a ligação de Pina à ciência, bem visível "no gosto que tinha pela astrofísica e física quântica". Ao escolher um tema improvável, Lage quer provar que "a crítica ainda não se debruçou" sobre muitas valências da sua obra. "Ele terá que ser redescoberto. Ainda há muito por explorar", garante.

No mesmo colóquio vai estar Osvaldo Manuel Silvestre. O professor universitário quer demonstrar "a comunicação profunda" entre os géneros que compõem a sua obra: "Os problemas que o poeta e o autor infantil levantam são similares. Por isso dizia desconhecer se um texto que iniciava iria ser para adultos ou crianças".

A exibição do documentário "As casas não morrem" - dia 18, em que completaria 75 anos - é outro atrativo. Na curta, de Pedro Macedo e Inês Fonseca Santos, acompanhamos o processo de mudança de casa do poeta. A dada altura, relembra a coautora, "desistiu da mudança e resolveu manter essa casa - arrumou de novo os livros e ia para lá ler e escrever noite fora".

Antologia no Brasil

Se o Porto acolhe a maioria das iniciativas, é no Brasil que decorre uma ação suscetível de alargar o número de seguidores. Nesta quarta-feira, em São Paulo, é lançado "O Coração Pronto para o Roubo", recolha alargada dos seus poemas.
O responsável pela seleção e posfácio é o professor Leonardo Gandolfi, que associa a saída da obra "ao público cada vez mais numeroso" interessado na poesia lusa. Conhecedor da poesia de MAP desde o início dos anos 2000, quando era estudante de Letras, Gandolfi não esconde a devoção por "versos que conseguem ser de uma só vez desencantados e entusiasmados".


O programa no Porto

Dia 16
"Desimaginar o Mundo, Descriá-lo...": inauguração da exposição coletiva de fotografia. Estação de metro da Trindade. Às 18 horas.

Dia 17
"Desimaginar o Mundo, Descriá-lo...": inauguração da exposição coletiva de fotografia. Mira Forum. Às 16 horas.

Dia 18
"Modos de Desimaginar Mundos": mesa-redonda com Pedro Mexia, Inês Fonseca Santos e João Paulo Cotrim. Apresentação do filme-documentário "As casas não morrem". Biblioteca Almeida Garrett (BAG), às 16 horas.

"Memória em voz alta": conversa entre amigos - Álvaro Magalhães, Germano Silva, João Luiz e Arnaldo Saraiva. BAG, às 17.30.

"Os livros- exposição" : obras e manuscritos, mostra de teatro e ilustração. BAG.

Dia 19
"Mundos Desimaginados": mesa-redonda com ilustradores e professores. BAG, às 15 horas.

Dia 20

Colóquio "Desimaginar o Mundo": oradores: Arnaldo Saraiva, Maria João Reynaud, Osvaldo Silvestre, Gustavo Rubim, Paola Poma, Rui Lage e Pedro Eiras. Palacete dos Viscondes de Balsemão. Às 17.30 horas

Dia 21

Artes performativas: Leituras de textos. Galeria Mira. Às 21.30 horas.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG