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"Gritos 6": um regresso muito especial para os fãs

"Gritos 6": um regresso muito especial para os fãs

"Gritos", a série criada nos anos de 1990 por Kevin Williamson e Wes Craven, está bem viva, como o demonstra o sexto capítulo da saga.

Depois de ressuscitar no ano passado a saga "Gritos", para um quinto capítulo que nem tinha o numeral no título, a dupla de realizadores composta por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett resolveu dar mais uma prenda aos muitos milhões de fãs da saga, fazendo agora uma continuação direta do filme anterior.

Agora, os quatro sobreviventes do massacre anterior, Sam, Tara, Mindy e Chad, deixam Woodsboro, instalando-se em Nova Iorque, tentando esquecer o passado e começar uma nova vida. Mas há sempre um Ghostface à nossa espera e em oito milhões de histórias que a cidade que nunca dorme alberga o nosso bem amado/odiado assassino tem campo aberto para voltar a atacar.

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Quando escreveu e realizou, em 1984, o primeiro "Pesadelo em Elm Street", Wes Craven, que morreu em 2015 com 76 anos, já se tinha estabelecido como um assinalável autor de filmes de terror. Mas foi Freddy Krueger que o imortalizou no panteão dos fãs do género, com oito filmes e uma série de televisão.

Em 1996, então, Craven vai ainda mais longe, assumindo a realização de uma história escrita por Kevin Williamson, sobre um assassino mascarado que atormenta a pequena cidade de Woodsboro. O filme começava com uma das cenas de suspense mais angustiantes do género, mostrando que o realizador valia muito mais do que as parcas linhas que lhe eram destinadas nas histórias do cinema. É difícil realmente esquecer essa sequência de abertura, interpretada por Drew Barrymore.

Curiosamente, e ao contrário de Craven, o autor da história original, Kevin Williamson, estava aí a iniciar-se no cinema. Fã de cinema desde miúdo, em especial dos filmes de Steven Spielberg, Williamson estabelecer-se-ia de imediato como um incontornável criador de conceitos de cinema de terror, seguindo os primeiros "Gritos" com títulos como "Sei o que Fizeste o Verão Passado", "Mistério na Faculdade", "O Rapto da Senhora Tingle", que também dirigiu e foi protagonizado por uma Helen Mirren que assim dava o aval a um género de cinema tão ostracizado pela crítica mais conservadora.

Os dois filmes que se sucederiam à saga "Gritos", provavam que Craven e Williamson eram mestres e que, com eles, o horror era real, a angústia sentia-se fisicamente, a estrutura narrativa era mesmo de quem pensava cinema a sério.

Ainda em vida, Wes Craven não resistiu à tentação de fazer um quarto filme. Foi em 2011, onze anos após o anterior e tendo sempre ao seu lado Kevin Williamson, que acompanharia então Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett nesse quinto capítulo, dedicado a Wes Craven. Não se tratava de um remake do original mas de uma sequela contemporânea da série, assumindo a respetiva distância temporal.

Esse novo "Gritos" era suficientemente divertido, e assustador quando deve ser, e encontrava na relação dos fãs com a série a sua razão de existir, desmontando por dentro os lugares-comuns dos filmes de horror, como volta a acontecer no capítulo 6. E se David Arquette, Neve Campbell e Courtney Fox se divertiam a regressar às personagens que ajudaram a imortalizar, esta última reaparece, sendo agora a única a entrar nos seis filmes.

E se no quinto filme o bem razoável "body count" se iniciava ao som de "Red right hand", tema icónico da série, e que Nick Cave até reescrevera para o terceiro filme, essa canção, que bem podia ser, mas não é, do mítico álbum "Murder Ballads", surge agora quase em surdina. Nenhum filme onde se ouça Nick Cave pode ser ignorado de qualquer maneira...

O JN teve acesso a declarações exclusivas para Portugal dos dois realizadores deste "Gritos 6". Tyler Gillett fala assim das "regras" desta série: "Uma das coisas verdadeiramente excitantes criativamente é que talvez a regra número um de um filme Gritos é que não tem de obedecer às regras". E remete para o conceito original. "Quando se vê esta franquia de filme para filme, pode-se realmente ver Wes Craven e Kevin Williamson a desafiar até mesmo a sua compreensão não só do que os filmes dentro desta franquia podem ser, mas do que pode ser um filme de terror."

O realizador assume, no entanto, o seu lado pessoal. "Somos grandes fãs do 'Scream' e gostamos tanto desta personagem, mas também havia uma hipótese real de colocarmos o nosso selo nisto". Bettinelli-Olpin concorda: "Estes filmes têm sido sempre uma grande fotografia da época em que foram feitos. Assim, para nós, ter uma nova conversa sobre género, filmes e tudo isso, significava que tínhamos muita liberdade para realmente nos libertarmos".

Como os fãs bem se recordam, um dos momentos-chave do quinto filme, com referências diretas neste último, foi a morte da personagem de Dewey, interpretada por David Arquette. Matt Bettinelli-Olpin não esquece a importância desse momento. "Aprendemos honestamente que as pessoas se preocupam com a série. Mantêm-na perto do seu coração. Por isso, em cada escolha que fazemos, não podemos ser petulantes com ela. Temos de a testar, debatê-la de forma criativa e garantir que estamos a fazer a escolha certa, para podermos continuar com o legado de Wes Craven e Kevin Williamson. E eles criaram essa ideia de que, de vez em quando, uma personagem que amamos possa não estar no próximo filme."

Tyler Gillett confirma o conceito. "Nos filmes 1 a 4, a morte é tratada com um pouco de cinismo. E, obviamente, isso faz parte do mundo do Gritos. É preciso ser capaz de matar uma personagem para que um filme continue a ser divertido" E retoma a morte de Dewey: "É uma parte deste filme, na medida em que ainda estamos a lidar com o pesar dessa escolha. Não só isso é valioso emocionalmente, como também honra essas personagens, deixando-as continuar a existir na forma como outras personagens lidam com a sua perda".

É nesse sentido que, sem grandes "spoilers", porque o seu nome consta nos créditos, se assiste no filme 6 ao regresso da personagem de Kirby, interpretada por Hayden Panettiere, e que quase fora uma das vítimas no quarto filme. Tyler Gillett explica a ideia: "Pensámos que seria realmente divertido pôr a Kirby no 5. Falámos com a Hayden há três anos. Mas depois sentimos que seria apenas mais uma pequena aparição divertida. Por mais tentador que isso fosse, decidimos esperar e trazê-la de volta como personagem de corpo interiro."

Matt Bettinelli-Olpin dá a sua visão. "A forma como a Kirby foi desenvolvida é central para o nosso tema principal, que é como lidar com situações traumáticas. Kirby está agora há dez anos afastada do que aconteceu em Woodsboro, por isso está um pouco mais avançada na forma como o processou, em comparação com as personagens que regressaram do nosso último filme.". Para Tyler Gillett foi também a oportunidade de trabalhar com Hayden. "Ela é incrível. A série Gritos é responsável por tantos jovens atores e personagens incríveis. Mas Kirby é uma das que se mantém de pé porque a Hayden é tão magnética."

Os dois realizadores explicam também a sua posição sobre a personagem icónica de Ghostface. Para Matt Bettinelli-Olpin tata-se realmente de colocar a personagem na galeria dos mitos. "Há essa ideia de como os filmes são mitos dos tempos modernos, e como perpetuamos um ser de outro mundo a partir de algo tão humano. Ghostface é humano, sempre. Mas há algo sobre essa personagem que é uma espécie de mito. Não é alguém a usar o traje - é algo mais. Ghostface penetrou na nossa cultura pop e faz parte do tecido da nossa vida quotidiana. Isso é tão interessante porque é algo que fazemos, com pessoas boas e más, na cultura em geral."

Tyler Gillettacrescenta: "Em todos estes filmes, Ghostface é um veículo para qualquer que seja o medo contemporâneo do momento. Os nossos espaços públicos são agora espaços assustadores. Este Ghostface é uma representação disso - uma força que se sente imparável e que pode aparecer a qualquer momento."

Pars os fãs da série a questão que se coloca é se "Gritos 6" assinalou o fim da saga. Matt Bettinelli-Olpin não abre o jogo, como seria de esperar. "Tratamos todos os nossos filmes como uma experiência cinematográfica singular. Somos crentes convictos de que os filmes devem ser filmes por si só, devem terminar uma história..."

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