
Golfinho prateado foi o último prémio arrecadado, em Cannes
Ivan Del Val / Global Imagens
Paulo Ferreira é engenheiro 350 dias por ano. Nos outros 15, é documentarista. Domingo recebe mais um prémio.
Se Paulo Ferreira pudesse escolher, nem sequer pestanejava: trocava, de boa vontade, o glamour da entrega de prémios em Hollywood ou Cannes por uma escapadela até aos confins do Mundo, só ele e uma máquina fotográfica. Mas a verdade é que é graças a uma que chega ao outro.
O engenheiro informático de Gondomar já arrecadou dois prémios em Los Angeles: o Oscar para melhor documentário (best time-lapse), e o outro, o que mais lhe agrada, o Hollywood Independent Documentary. É uma estatueta de um homem com uma câmara às costas, como ele, quando vai, mundo fora, e se isola durante dias e faz os documentários mais fantásticos, em time-lapse (vídeo feito a partir de uma sequência de fotos captadas num longo espaço de tempo, montadas em quadros por segundos e exibidas em intervalos de minutos).
Começou por aprimorar a técnica fotografando parques naturais, mais especificamente, o Gerês, o Alvão e Estrela. Depois evoluiu. Foi aos Picos da Europa, saiu de lá com milhares de fotos e montou um filme de três minutos. Foi o lance para o sucesso internacional, conquistando um prémio numa competição em Madrid.
Tudo começou na net
Paulo Ferreira continuou a crescer (começou por ver filmes na Internet, nos anos 90) e experimentou voos mais arrojados: as auroras boreais da Noruega. "Foram 15 dias sozinho, no meio do nada, com temperaturas que chegavam aos 21 graus negativos", recorda, esclarecendo que a mensagem que quer transmitir nos seus vídeos tem, por um lado, um cariz ambiental ("as auroras boreais existem graças à poluição luminosa") e por outro a perfeição da natureza . Ao fim de milhares de fotografias e um vídeo de minutos, nasceu "Nordlys - the northern lights". Mas faltava-lhe algo: a narrativa. "Convidei Conrad Harvey, enviei-lhe o vídeo, e ele aceitou", conta, com simplicidade, o engenheiro de uma empresa de informática e arquitetura.
Foi com "Nordlys" que Paulo Ferreira atingiu o estrelato. Lá fora. Cá dentro, nem por isso. Venceu dois prémios de Hollywood.
A curiosidade levou-o, no ano passado, durante parte das férias (como faz sempre) até à Nova Zelândia, onde nasceu "Patagónia, the tip of the World". São 70% em time-lapse e 30% de filme, de novo com narração de Conrad Harvey.
Desta vez, o reconhecimento levou-o a Cannes. "Uma aflição", recorda. Entre mais de 1100 trabalhos a concurso, alguns com orçamentos 100 vezes maior do que o seu, foi o vencedor. "Há o dress code, o subir ao palco e erguer o troféu, que é pesado (um golfinho prateado) e fazer agradecimentos. É muita coisa", recorda, com alguma atrapalhação.
Pormenores:
Portugal
Do currículo de títulos, o documentarista salienta aquele arrecadado no Festival Finisterra, o mais importante ganho em Portugal (Sesimbra). Dia 14, será representado pelo embaixador português na Croácia na entrega de mais um alto prémio, em Zagreb.
Patrocínios
Paulo Ferreira paga os documentários com trabalhos publicitários que faz durante o ano. Só agora tem patrocínios, que não dão para todas as despesas.
Invenções
O primeiro dolly foi construído com uma régua, um fio e um saco furado.
