
As paisagens melancólicas e escapistas dos God is an Astronaut vão ocupar esta quinta-feira, às 22 horas, a sala 2 da Casa da Música, no Porto.
A banda de "space rock" dos gémeos irlandeses Niels e Torsten Kinsella traz na bagagem "Epitaph", disco lançado este ano e que foi escrito em memória de um primo dos músicos que faleceu tragicamente aos sete anos. Em conversa com o JN, Torsten Kinsella falou sobre as circunstâncias dolorosas em que surgiu o novo álbum e destacou a influência das paisagens irlandesas na música que criam. Fogem do ambiente da Internet como o diabo da cruz.
O vosso último trabalho, "Epitaph", parece ser o mais frágil e etéreo da vossa discografia. Qual foi o espírito que presidiu à composição?
O álbum foi escrito em memória do nosso primo de sete anos, cuja vida foi levada tragicamente. É dedicado a ele e é também a nossa forma de dizer adeus e de tentarmos aceitar esta perda terrível e incompreensível. É de longe o nosso trabalho mais negro e pessoal. Descreveria os nossos sentimentos como um estado permanente de luto misturado com desespero, raiva e nostalgia.
Costumam ouvir outra música quando estão a trabalhar num novo álbum?
Quando estou a escrever e a gravar a última coisa que me apetece é ouvir mais música. Depois de passar horas enfiado num estúdio, preciso de uma pausa e ver um filme é algo mais relaxante para mim.
Acham que o sítio onde se vive pode determinar a música que se faz, ou isso já não importa com a globalização e a Internet?
A zona onde vivemos, aqui na Irlanda, tem um papel vital na nossa música. O tema "Komorebi" foi inspirado pelas florestas e montanhas do Parque Nacional de Wicklow. É um lugar onde podemos limpar a cabeça e refletir sobre as coisas realmente importantes da vida. O vídeo que a Derval Freeman realizou dá conta da atmosfera e da paisagem. A Internet tem muito pouca influência no que escrevemos, é um mundo superficial, tentamos ao máximo não ser influenciados por ele.
Usam com frequência a projeção de imagens nos vossos concertos. Que critério usam para as escolher?
Quando começámos a usar projeções nos concertos o Niels passava imenso tempo a procurar imagens que coincidissem com o sentimento da canção. Ao fim de muitos anos nessas pesquisas, deixámos simplesmente de ter o material necessário para manter a frescura. A Derval Freeman é a nossa engenheira de luz, é uma artista que faz uma abordagem diferente à iluminação. Quando ela ouve a nossa música, consegue perceber quais são as cores que melhor combinam, é um trabalho muito emotivo e nós estamos cheios de sorte por tê-la connosco.
Prepararam alguma coisa especial para o concerto na Casa da Música, que é um dos lugares mais icónicos do Porto?
Escolhemos um repertório negro e melancólico, com canções mais antigas que achámos apropriadas ao espírito de "Epitaph". Resolvemos incluir "Frozen twilight" [do EP de 2006 "A moment of stillness"] no alinhamento, e será a primeira vez que vamos tocar essa música ao vivo. A disposição invernal é algo que encaixa bem no novo material.
Já atuaram várias vezes em Portugal. Que impressões têm sobre o país?
Gostamos sempre muito de tocar em Portugal. A atmosfera é sempre amigável e hospitaleira, estamos ansiosos por este espetáculo no Porto.
