"Bohemian Rhapsody" venceu quatro Oscars, com Malek como melhor ator, mas "Green Book" foi coroado como filme do ano. "Roma" venceu na categoria de realização e Olivia Colman é a melhor atriz.
"Green book", história real da improvável amizade entre dois homens, um branco e um afro-americano na América dos anos 60, ganhou o Oscar de melhor filme. O prémio caiu com certa surpresa no Dolby Theatre porque derrotou o hiperfavorito "Roma", que se ficou por três estatuetas.
O coroado "Green book", que somou um trio de prémios, faz história também com Mahershala Ali: é o segundo ator afro-americano com dois Oscars de melhor ator secundário no currículo, proeza que pertencia até agora apenas a Denzel Washigton (ator principal em "Dia de treino", 2001, e secundário em "Dia de glória", de 1989). Mahershala, que é centro dramático de "Green book", filme do iconoclasta Peter Farrelly, veste a pele do pianista Don Shirley numa digressão pela América sulista e racista dos anos 60 em que é guiado pelo seu motorista branco italo-americano, interpretado por Viggo Mortensen (que perdeu o Oscar para Rami Malek/Freddie Mercury). "Green book" venceu ainda o Oscar de melhor argumento, que foi escrito por Nick Vallelonga, o filho de Tony, o personagem central do filme.
Quatro Oscars para "Bohemian Rhapsody". Rami Malek, o ator de 37 anos celebrizado na série distópica "Mr. Robot", e que tem vindo a limpar a temporada de prémios, ganhou o primeiro Oscar à primeira tentativa: é seu o papel de melhor ator do ano pela densidade psicológica que transmite a Freddie Mercury, a figura catalisadora dos Queen no filme "Bohemian Rhapsody". Malek é, de facto, o melhor desta obra biográfica efusiva mas com dramatização global relativamente tépida.
"Bohemian Rhapsody", a vida biografada de Freddie Mercury e da sua operática banda rock Queen, venceu ainda edição de som, melhor mistura de som e melhor montagem, suplantando aqui o favorito "Vice", filme bastante engenhoso na forma como monta a sua história - e brinca com os conceitos académicos da produção de filmes.
Alfonso Cuarón, o cineasta mexicano de 57 anos que venceu o Oscar de melhor realizador em 2013 por "Gravidade", subiu três vezes ao palco para recolher prémios com "Roma", o poema épico sobre a sua infância no México de 1970: melhor filme estrangeiro, melhor realizador emelhor fotografia, que é assinada pelo próprio diretor.
É o choque da noite: a americana Glenn Close ("The wife") perdeu o Oscar de melhor atriz para a inglesa Olivia Colman, da farsa política do séc. XVIII "A favorita". Close, de 71 anos, estava nomeada pela sétima vez e tem agora sete derrotas nos Oscars - o que é um recorde.
Olivia Colman, 46 anos, subiu ao palco engasgada e perplexa. Ela é a Rainha Ana da Grã-Bretanha, uma monarca rodeada de consortes-amantes e doença, no ácido drama cómico do grego Yorgos Lanthimos.
O primeiro Oscar da noite foi para Regina King, melhor atriz secundária pelo seu papel em "Se esta rua falasse", o drama rácico de Barry Jenkins, autor de "Moonlight", Oscar de melhor filme de 2017. A vitória de Regina King, que já ganhara o Globo de Ouro, significa uma dupla derrota para "A favorita", já que as suas duas atrizes secundárias Emma Stone e Rachel Wisz, estavam nomeadas.
Lady Gala, que envergava um vestido preto de Alexander McQueen e subiu ao palco em lágrimas, ganhou o Oscar logo à primeira nomeação, aos 32 anos: melhor canção original com "Shallow", do drama de Bradley Cooper "Assim nasce uma estrela".
Spike Lee ganhou finalmente o seu primeiro Oscar competitivo aos 61 anos: melhor argumento adaptado de "BlacKkKlansman". É a história - real e inacreditável - de um polícia negro que consegue infiltrar-se no clã racista da supremacia branca KKK na glória dos anos 70. Spike, que subiu ao palco com um smoking púrpura e sapatilhas douradas, e que levava quatro folhas de discurso, terminou os agradecimentos a levantar um punho político: "Façam a coisa certa em 2020!", disse, referindo-se às presidenciais americanas em que é preciso derrotar Donald Trump. Nas mãos tinha dois enormes anéis com palavras de ordem: love (amor) numa e hate (ódio) na outra.
Conforme previsto, no Oscar de melhor filme de animação triunfou o superfavorito "Homem-Aranha: no universo aranha". A fita, que tem uma mensagem forte sobre a inclusão e a diversidade, derrota a Disney e "Incredibles 2".
"First man", o filme em que Damien Chazelle, autor de "La la land", transforma um grandioso feito épico - a ida americana à lua - num íntimo melodrama de um homem cercado de solidão, venceu o Oscar de efeitos visuais. É o único prémio da noite para um filme com três nomeações, já que perdeu montagem e mistura de som para o filme dos Queen.
A realizadora irano-americana Rayka Zehtabchi vai ficar na memória por ter tido o melhor arranque de discurso da noite: "Oh meus Deus, não acredito que um filme sobre a menstruação acabou de ganhar um Oscar!", disse, bastante agitada de emoção. Ganhou mesmo: "Period. End of Sentence" venceu a estatueta para o melhor documentário em curta-metragem. Trata-se de um filme-choque que documenta a atroz condição em que vivem muitas mulheres indianas, que não têm acesso a produtos básicos de higiene íntima no século XXI da globalização, e que enfrentam todo o tipo de estigmas sociais devido à menstruação.
"Free solo" venceu o Oscar de melhor documentário e há dois portugueses premiados, Joana Niza Braga e Nuno Bento, ambos de 27 anos, fizeram parte da equipa de som do filme que retrata a escalada de Alex Honnold do grande rochedo El Capitan, no Parque Nacional de Yosemite, nos EUA. O documentário é realizado pela dupla Jimmy Chin, Elizabeth Chai Vasarhelyi. O filme passa no National Geographic a sete de março e no dia 17 chega às salas de cinema.A farsa política "Vice", de Adam McKay, somou o primeiro prémio - e justíssimo - pela caracterização que transforma Christian Bale em Dick Cheney.
"Black Panther", do jovem realizador Ryan Coogler, a primeira produção de super-heróis a chegar à nomeação para melhor filme, já ganhou três Oscars: melhor banda sonora original, melhor guarda-roupa edesign de produção, derrotando nesta última categoria o predileto "A favorita", do cineasta grego Yorgos Lanthimos.
A cerimónia dos prémios de cinema, que decorre no Dolby Theatre, em LA, EUA, e que, pela primeira vez em 30 anos não teve apresentador, abriu com um número ao vivo dos Queen com o cantor Adam Lambert num medley histriónico de "We Will rock" e "We are the champions" que galvanizou a sala.