Um set acústico de menos de meia hora, um artista ressacado e confessional, um belo petisco no arranque do 2.º dia de Coura 2016
Ryley Walker, 26 anos, trovador torturado do western e da paisagem americana do Midwest, em estado de confissão frontal: "Huh, acordei tão ressacado hoje de manhã... Estive toda a noite no Porto, tudo aqui é tão divertido, não consegui evitar, huh".
Ryley, o artista que abriria quatro horas mais tarde o palco maior do festival, foi a estrela da tarde da Vodafone Music Session, os concertos secretivos para 100 pessoas às duas da tarde, sempre em locais inusitados, só anunciados quando já estão quase a começar. Hoje, quinta-feira, segundo dia do 24.º Vodafone Paredes de Coura, o concerto foi no Escadório barroco da Igreja do Espírito Santo, no meio da vila solar de Coura.
Num set curto de canções que demorou 25 minutos, com o povo espalhado e sentado ao sol na escadaria inclemente, o trovador, alto, de pé, guitarra acústica empenhada, guedelha de guerrilhado, olhos escondidos num boné encarnado, ofereceu-nos a aridez do western e do blues empoeirado da estrada sem fim da paisagem pastoral americana, como os seus temas profundos, sensíveis e risíveis do quotidiano de quem tem 26 anos. Diz ele: "Esta é a "Roundabout", é sobre um tema estupidamente comum na minha vida: sais de um bar de Chicago de madrugada e não consegues encontrar o raio das tuas chaves de casa". Tímido mas empático, haveria ainda de dizer, como todo o bom americano que vem à velha Europa, "Trump, yeah, fuck that guy!", levantando palmas imediatas de apoio contra o misógino republicano.
Ryley fechou o concerto 25 minutos depois de ter começado e em estado claramente expansivo: "Eh eh, obrigado por terem vindo, vamos lá arruinar-nos e ter um belo dia!". E saiu-se a exclamar, sem conseguir certamente evitar dizer isto: "Aqui toda a gente é bonita! Vocês são muito bonitos! Vocês devem ser as pessoas mais bonitas do mundo, meu Deus!".