Álvaro Covões, em entrevista ao JN, explica por que razão recusa desistir do Nos Alive.
Faltam ainda 108 dias para a 14ª edição do Nos Alive, o maior festival português de música, que tem lugar cativo no Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras. E faltam apenas 24 dias para que o pico da Covid-19 seja atingido em Portugal. De acordo com o anúncio da ministra da saúde, sábado de manhã, o ponto alto do surto deverá ocorrer a 14 de abril.
Mas não é inspirado por essa previsão, que acentua a distância entre o "ainda" e o "apenas", que Álvaro Covões, diretor da promotora Everything is New, recusa equacionar o cancelamento do festival que este ano contempla, pela primeira vez, um cartaz com quatro dias - mais um do que o habitual.
É porque "se o país não tiver entrado numa certa normalidade nessa altura", então, diz, ao JN, não é possível imaginar "que país poderá sobrar da pandemia". Apesar disso, Álvaro Covões admite não ter outro instrumento para acreditar na realização do festival que não seja a "fé".
Milhões em risco
Um estudo antigo sobre o impacto económico do Nos Alive na região da Grande Lisboa aponta para um encaixe financeiro de 50 milhões de euros por cada edição. "Como este ano o festival é maior - quatro dias, sete palcos , 150 artistas -, se não houvesse festival, perder-se-iam mais de 50 milhões de euros."
O Nos Alive (de 8 a 11 de julho) não é caso único na esperança de que tudo seja ainda posível. Uma carta aberta subscrita pelos organizadores de alguns dos maiores festivais da Europa - desde o Roskilde, na Dinamarca (sete dias no final de julho), ao Primavera Sound, em Espanha (cinco dias no início de junho) - alerta para a necessidade de serem reunidas as condições para a realização dos eventos " Se mantivermos os festivais, podemos ser parte crucial da sobrevivência desta indústria."
"Não take-away para concertos ao vivo"
Álvaro Covões concorda que a posição deve ser concertada - na Europa e em Portugal. "Se metade dos festivais cair, a outra metade cai por inerência", antecipa.
Mas é fundamental, também, sublinha, não fazer distinções entre público e privado. "O setor da cultura é muito atípico no mercado, está dividido entre público e privado como nenhum outro. Mas, neste momento, não pode haver essa separação. O dinheiro é de todos e temos de estar todos juntos nisto."
De resto, alerta, não se reativa um setor com uma logística deste calibre de um dia para o outro. "O nosso setor foi o primeiro a ser afetado, espero que não seja o último a ser reativado." Tanto mais que "esta indústria é das poucos que não pode trabalhar a partir de casa. Não há take-away para concertos ao vivo."
Para se ter noção da dimensão do Nos Alive, Álvaro Covões (que já adiou os concertos de Abril e Maio) lembra que o evento tem um orçamento que ultrapassa os 12 milhões de euros e abrange cerca de 60 mil pessoas por dia.
Daí a importância da posição da tutela, que prometeu uma resposta para segunda-feira amanhã. "Não basta adiar o pagamento à segurança social."