Telmo Ramalho tinha 15 anos quando, pela primeira vez, ouviu uma das clássicas rábulas de Raul Solnado numa cassete que o pai lhe ofereceu. Desde então, nunca mais deixou de admirar o popular ator, desaparecido há quase 10 anos. "Ele é intemporal", assegura ao JN.
Telmo Ramalho, um dos elementos do trio de improvisadores "Os Improváveis", criou um tributo a Raul Solnado que estreia esta sexta-feira no Auditório dos Oceanos, em Lisboa, e que, dia 5 de abril, chegará ao Teatro Sá da Bandeira, no Porto.
"A minha história com Raul Solnado começou quando eu tinha 15 anos, em 1996. O meu pai ofereceu-me uma cassete com algumas das suas rábulas. Não me cansava de as ouvir. Na altura não pensava sequer em ser ator. Mas aquilo despertou-me o bichinho do teatro", contou ao JN.
Não obstante, desde a escola primária, que frequentou na sua terra natal, Figueira de Castelo Rodrigo, ficar "muitas vezes de castigo por ser o palhaço da turma, por gostar de fazer rir", Telmo Ramalho começou por ter outra profissão.
"Fui durante sete anos vigilante da natureza, no Parque Natural do Douro Internacional. Aquilo dava-me tempo para, nos percursos que tinha de fazer, de jipe, colocar a cassete do Raul e ouvir insistentemente os monólogos. Nunca me cansava. Por acaso, agora até tenho essa cassete assinada por ele".
Mas só foi quando a mãe o inscreveu no concurso da RTP "Aqui há talento", onde chegou até à última fase de apuramento, que Telmo Ramalho percebeu que, de facto, o que queria mesmo era ser ator.
"Inscrevi-me num curso de teatro na Sociedade Guilherme Cossoul, em Lisboa, e o Raul Solnado foi um dos meus professores. Ele era bastante técnico e rigoroso. Como professor não nos poupava. Mas era uma pessoa bastante acessível. Saía muitas vezes para jantar connosco, os seus alunos".
Algumas destas memórias é o que conta, logo no início do monólogo à laia de justificação. Depois ouvem-se palmas e eis que Telmo, envergando um casaco bege e um chapéu que era a imagem de marca da personagem interpretada por Raul Solnado, dá voz às rábulas.
"Isto é para rir. Cada vez que subo ao palco é ele que me inspira. Tenho no camarim uma fotografia sua que escolhi de propósito. Este meu tributo é um misto de humor e de fascínio. E, claro que acrescento também um pouco de mim. Estou a dar o meu melhor em tudo", sublinhou.
Em "Raul - um espetáculo de homenagem a Solnado", Telmo Ramalho interpreta, ao longo de pouco mais de uma hora, textos inesquecíveis como "É do inimigo? A guerra de 1908, onde um inesquecível soldado vai de táxi para a guerra porque a mãe não queria que ele fosse montado num cavalo manhoso e encher a guerra de moscas".
O tributo a Raul Solnado não ficaria completo se, às rábulas originais, a maioria criadas em parceria com o espanhol Miguel Gila (também já falecido, em 2001) não fossem recriadas as canções "Malmequer" e "Timpanas" que o ator celebrizou.
A encenação do monólogo é de Henrique Dias - ex guionista das Produções Fictícias, que também contribuiu com algumas ideias de modo a resgatar para o presente o humor do passado. Tudo para que, no final, os espetadores, tal como desejaria Raul Solnado, "façam o favor de ser felizes".