
O representante de Portugal na Eurovisão, Conan Osiris
EPA/PEDRO PINA
O regulamento da Eurovisão é claro quando proíbe qualquer conteúdo político, no entanto quase todos os anos há uma polémica política associada ao evento.
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Quem conhece por dentro o fenómeno da Eurovisão e do Festival da Canção avisa que este tipo de polémicas é benéfico para o espetáculo e que, apesar da proibição, a política engrandece o mediatismo de um evento que, de outra forma, não seria tão falado.
"Vivem um bocado naquela luta contra a política, mas sempre com muita influência da política", disse Salvador Sobral, herói português na Eurovisão de 2017, em entrevista à RTP. Este ano, com o festival agendado para decorrer entre os dias 14 e 18 de maio em Telavive, Israel, multiplicam-se os apelos ao boicote dos concorrentes devido ao conflito entre aquele país e a Palestina (ver caixa).
Conan Osiris, representante português, está proibido pela organização da Eurovisão de fazer qualquer comentário sobre os apelos ao boicote, sob pena de desqualificação. Contudo, são vários os pedidos que recebe para boicotar o festival e o último veio do bem conhecido Roger Waters, dos Pink Floyd.
O conflito de 2017
Salvador Sobral lembra que em 2017 também se discutia o conflito entre a Rússia e a Ucrânia a propósito da região da Crimeia, com apelos ao boicote: "Eu fui na mesma". Para o vencedor de 2017, Conan Osiris também "vai na mesma", porque os concorrentes "não estão em Israel, estão na Eurovisão".
No caso de Salvador, uma t-shirt de apoio aos refugiados vestida na conferência de imprensa após a semifinal da Eurovisão valeu-lhe uma repreensão: "Disseram-me logo que ali não era o sítio para isso".
O JN contactou todos os finalistas do Festival da Canção deste ano e poucos são os que querem comentar os apelos ao boicote. A RTP também não fala do assunto. Ainda assim, o manager dos Calema converge na ideia de que "a Eurovisão não é um festival de música". Atualmente, é mais "um conjunto de coisas e polémicas que a alimentam e saem fora da esfera musical", adianta.
Ou seja, muitos asseguram que a participação não significa apoiar Israel no conflito, até porque a música pode ser usada como arma de denúncia. "Eu sou músico, enquanto músico, luto com a música. Por alguma razão o meu tema para o Festival da Canção se chama "Igual a ti" e não outro qualquer", explica NBC.
A edição deste ano não à polémica e pode ter como principal protagonista o grupo Hatari, da Islândia, que prometeu passar a mensagem dos direitos da Palestina no palco de Telavive. A acontecer, será desqualificado, pois o regulamento proíbe a menção a "causas políticas", direta ou indiretamente, seja por mensagem, discurso, letra de música, dança ou gestos. A concorrente da Ucrânia desistiu, mas por causa da Rússia.
Crimes de guerra contra a Palestina
Na base dos apelos ao boicote está o que a ONU considera que podem ser "crimes de guerra" praticados pelo regime israelita contra manifestantes palestinianos desarmados na Faixa de Gaza, no ano passado, naquela que foi uma das maiores escaladas de violência do conflito israelo-palestiniano, que dura desde finais do século XIX. Segundo a ONU, "mais de seis mil manifestantes desarmados foram atingidos por atiradores de elite, semana após semana, durante as manifestações". Israel justificou que o protesto foi organizado pelo Hamas, o movimento islâmico que controla a Faixa de Gaza e com que já travou três guerras desde 2008.
