João Gonzalez, Laura Gonçalves e Filipe Melo estão na "shortlist" da Academia.
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Em "Ice merchants", a animação de João Gonzalez, um homem e o seu filho saltam todos os dias de paraquedas, da casa onde vivem no alto à beira de um precipício, para virem lá abaixo à aldeia, vender o gelo que produzem durante a noite.
Laura Gonçalves realizou a animação "O homem do lixo", sobre um antigo emigrante que trabalhou em França, cujas memórias se cruzam à mesa da família, durante uma tarde quente de agosto. Mas o Tio Botão, quando voltava a Belmonte, vinha numa carrinha cheia de "lixo", que transformava num verdadeiro tesouro.
Conhecido por outras andanças, da música à banda desenhada, Filipe Melo volta a dedicar-se ao cinema, com "O lobo solitário". No programa da noite da Viva FM, o radialista Vítor Lobo recebe uma chamada de um velho amigo que quer pôr a conversa em dia.
"Grande oportunidade"
Em comum, estes três filmes têm o facto de possibilitar aos seus autores um Oscar de Hollywood, visto que se encontram nas "shortlists" de curtas-metragens, de animação e imagem real. São ainda 15 filmes em cada categoria, antes de se chegar aos cinco finalistas, mas é um passo gigantesco que o cinema português transpõe.
De fora da "shortlist" para o Oscar de Melhor Filme Internacional ficou "Alma viva", da franco-portuguesa Cristèle Alves Meira, rodado numa aldeia de Trás-os-Montes, que fora designado pela Academia Portuguesa de Cinema.
É comum aos três realizadores que ainda estão na corrida o reconhecimento da importância deste momento. "É uma honra enorme para a equipa que trabalhou neste projeto", disse João Gonzalez ao JN. "Fico feliz por poder partilhar esta lista com pessoas que admiro muito e por ver um número crescente de filmes autorais a chegar à "shortlist" de curta-metragem de animação, não sendo só os grandes estúdios a marcar presença".
Para Laura Gonçalves, "é uma grande oportunidade para o filme ter mais visualizações. É o que nós queremos quando fazemos um filme", diz-nos. "As curtas sofrem muito de terem poucos circuitos para chegar ao espectador. Temos sempre um espectador muito definido. Estar nesta lista é também uma validação do nosso trabalho".
Filipe Melo não esconde a surpresa. "Foi realmente inesperado, deixou-me muito feliz, a mim e a todos os que fizeram o filme comigo. Vejo sempre os Oscars em direto desde pequenino, vivo todo o evento com imensa convicção. É o meu Mundial de futebol."
Segue-se agora o processo de votação entre os membros da Academia, que decorre de 7 a 11 de janeiro. A lista final será divulgada a 24 desse mês e a cerimónia terá lugar a 12 de março. É a hora de cruzar os dedos ou haverá ainda algo que se possa fazer? Laura Gonçalves não pensa muito nisso, até porque tem outro projeto em curso. "O que estou a planear é um feliz Natal com a família e trabalhar no filme que estou a fazer com a Alexandra Ramires, que está já numa fase de pintura", confessa-nos.
João Gonzalez confirma-nos que "iremos continuar a trabalhar com o nosso estratega de campanha, que sabe melhor quais os passos a tomar a partir de agora. Todos os nossos esforços serão concentrados em dar a maior visibilidade possível ao filme".
Por seu lado, Filipe Melo não esconde o entusiasmo com o que se está a passar. "Até eu, que sou mais cético e pessimista, me sinto contagiado e motivado. Faremos o que estiver ao nosso alcance, embora não saiba precisar o que isso será".
Procurar parceiros
A concluir, os três autores dão a sua perspetiva sobre o impacto nas suas carreiras e no cinema português destas pré-nomeações. "Espero que ajude a chamar a atenção para a qualidade elevadíssima do cinema autoral português. É uma honra enorme poder contribuir para este momento incrível desta área artística em Portugal", refere Gonzalez.
Para Laura Gonçalves, o momento é de procurar novos parceiros lá fora. "Os filmes só existem e são o que são porque temos uma equipa com quem vamos trabalhando ao longo destes anos todos. A ideia é conhecermos mais pessoas, e elas existem, com vontade de colaborar connosco".
Filipe Melo prefere pensar num projeto de cada vez. "Não é um passo para nada, o que me traz menos expectativa e ainda mais alegria por ter esta pré-nomeação. Não sei se será um impulso para algo, mas é sem dúvida uma ótima chance de mostrar o filme a mais pessoas por este mundo fora".