O presidente do Benfica, Rui Costa, deu, esta quinta-feira, uma entrevista à BTV, na qual abordou os principais temas da atualidade encarnada, bem como o mercado de transferências de inverno. A saída de Enzo Fernández, que rumou ao Chelsea a troco de 121 milhões de euros, foi um dos temas fortes e o argentino foi muito criticado.
Depois de mais de um mês de muita indefinição e algumas polémicas, tal como a deslocação à Argentina, onde celebrou a passagem de ano, o campeão do Mundo de 2022 acabou mesmo por rumar a Londres, no meio de muitas críticas por parte de alguns adeptos do Benfica e que mereceu uma atenção especial do líder da SAD encarnada.
"Tudo foi feito para que a venda não se efetuasse. Os dados estão em cima da mesa e estou de consciência tranquila e triste por perder o jogador, mas fiz tudo para defender o Benfica. Desde o primeiro dia que procurámos não o perder, sobretudo neste mercado, a meio da época, e assumi que não vendia o jogador abaixo da cláusula. Tentámos de tudo para não fazer", começou por afirmar.
"Mas desde o início que o Enzo mostrou vontade de não ficar no Benfica. Agora quero explicar a cláusula de rescisão: a regra da FIFA diz que o jogador tem de depositar o dinheiro no clube. O que acontece neste caso é o valor da cláusula: é a verba que está inscrita, mas representa o acordo de compromisso entre clube e jogador para este decidir se quer ficar ou sair. Desde o princípio tememos esse valor, que o Chelsea o trouxesse. Voltou ao ataque a dois dias e meio do fim do mercado e o jogador demonstrou que queria sair. Fizemos uma proposta de aumento salarial, porque não podíamos pagar nem metade do que o Chelsea oferecia", acrescentou Rui Costa.
"Nós, em Portugal, temos dificuldade em acompanhar estas propostas. Eu, como antigo jogador, compreendo a vontade de ganhar mais, mas tentámos explicar-lhe: ele é um jogador extraordinário e não ia perder valor até ao final da temporada, quando apareceriam muitos outros "chelseas"", garantiu.
"Até aqui é tudo compreensível, mas não o conseguimos convencer. O valor da cláusula não obriga a que seja pago a pronto, a partir do momento em que esse valor foi posto em cima da mesa ele foi incisivo a querer sair do Benfica. Tanto na primeira fase, como nestes últimos dias do mercado. Nesse momento, o Enzo foi intransigente", explicou, antes de criticar abertamente o internacional argentino.
"À hora de almoço de dia 31, ponho a proposta ao Chelsea de comprar já e levar só no final da época, mesmo baixando eu o valor da transferência. O Chelsea assinaria já, mas ele ficava por empréstimo ou opção de compra, mas o jogador, mesmo assim, mostrou-se negativo a ficar no Benfica. E é aqui que tudo muda: uma coisa é eu respeitar a vontade do jogador, outra é eu fazer tudo para que ele não perdesse um euro e ele continuar a não querer ficar no Benfica. Um jogador que, mesmo assim, não quer ficar, não está comprometido com o Benfica e não pode voltar a entrar no balneário", referiu o líder das águias.
"Como adepto, não queria mais este jogador no balneário. Mostrou-se descomprometido com o projeto e isto não é só bater no peito. Isso qualquer um pode fazer. Desde que chegou e até ao momento que saiu,o Enzo foi muito bem tratado no Benfica. Quando ficou claro que ele não queria ficar, eu não quero que ele vista mais a camisola do Benfica. Este é um compromisso que tenho com os adeptos", acrescentou.
"Até às últimas horas do mercado queríamos ficar com o Enzo e era extraordinariamente trazer alguem que fosse uma mais-valia. Um jogador de 10 milhões, nessas circunstâncias, fica a valer 50M€ ou só se contrata pela cláusula. Não ia trazer um jogador qualquer só para mostrar que tinha uma alternativa ao Enzo. Temos soluções dentro do plantel ou na equipa B".
Gonçalo Guedes resolvido em dia e meio
Rui Costa falou das outras movimentações do Benfica no mercado de inverno, com destaque para o regresso de Gonçalo Guedes. "No início não pensávamos ser possível ter o nosso Gonçalo Guedes, e os nórdicos ajudaram a colmatar as carências que tínhamos no plantel. Falando com equipa técnica, precisávamos de um extremo e um homem de área e, no meio do processo, aparece a solução Gonçalo Guedes, que estava prestes a sair do Wolverhampton", começou por explicar.
"Esta transferência foi feita em dia e meio, com muito mérito do Gonçalo, que estava em negociações com clubes de campeonatos mais valorizados e a partir do momento que falou connosco, não hesitou, nem pensou duas vezes e quis voltar a casa. Quando ele apareceu, sendo da casa, tendo imensa vontade de jogar pelo Benfica e trouxe uma imensa mais-valia ao nosso plantel", disse antes de se referir às outras contratações.
"Fui colega de equipa de três escandinavos, com grande orgulho e prazer, e esse mercado sempre resultou no Benfica. Esses países têm muito talento e só ainda não foram utilizados porque eles estavam parados, por isso é que demoram mais a entrar na equipa", admitiu Rui Costa, referindo-se aos reforços Andreas Schjelderup e Casper Tengstedt.
"Se nós excluirmos a saída do Enzo, que não era uma transferência que queríamos fazer, nós não gastámos de forma exagerada no mercado de inverno. Não sou um louco para levar o Benfica a falência financeira - sabemos a estrada que temos pela frente e o projeto desportivo está sempre à frente do financeiro, embora isto seja uma pescadinha de rabo na boca", admitiu, antes de reconhecer que, exceção feita a Enzo Fernández, tudo correu da forma prevista.
"Estou bastante triste pela forma como acabou o mercado, que teria sido perfeito sem estes dois dias finais, mas não vou olhar mais para trás e é isso que peço aos benfiquistas. Estamos na frente do campeonato, estamos a fazer uma época extraordinária e garanto que todos os jogadores estão comprometidos com o Benfica", garantiu.