Pode um distrito quase sempre esquecido pelos governos vencer a crise? Não só pode como pode ser dos primeiros a fazê-lo. A resposta foi dada, esta segunda-feira, por deputados, economistas e administradores numa conferência sobre a economia regional de Aveiro.
"Aveiro precisa de fazer melhor o que sabe fazer, inovando com o apoio da Universidade para que do distrito saiam produtos de excelência como os sapatos que vemos à venda nas melhores lojas de Hong Kong ou a cerâmica que observamos no Metro de Moscovo". A frase, em resumo, traduz um caminho para o futuro do distrito de Aveiro traçado por Ângelo Correia, em Aveiro, na conferência "Portugal A Soma das Partes - As economias regionais como factor de desenvolvimento", realizada pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), em colaboração com o JN e a TSF.
Ângelo Correia foi o orador escolhido para falar do passado, presente e futuro da economia de um distrito "pouco apoiado pelos governos". O resultado foi uma aula no Centro de Congressos.
O ex-ministro e deputado do PSD acredita que o distrito por onde várias vezes foi eleito tem condições para "ser dos primeiros a sair da crise", graças a uma competitividade formatada no equilíbrio produtivo do distrito, "que não é muito urbano, nem muito industrial, nem muito agrícola, mas que tem isto tudo".
Ângelo Correia pensa que, tal como na década de 60, em que Aveiro "aproveitou os incentivos económicos para ir longe nas indústrias de calçado ou papel", ou no pós 25 de Abril, "quando soube preencher o vazio empresarial deixado pelos grupos económicos destruídos nos processos de nacionalização", os empresários da região não criando novas empresas, como em 60 e 70, "devem apostar em fazer melhor o que já fazem bem, antecipando mercados e inovando com o apoio da excelente Universidade de Aveiro".
Universidade quer trabalho
A Universidade de Aveiro (UA) agradece o elogio - "temos o melhor rendimento científico per capita nacional" - e futuras encomendas, afirmou o reitor. Manuel Assunção lembrou que a UA perdeu 20% do apoio financeiro estatal desde 2006. "Chegámos a um ponto em que precisamos de ajuda das empresas e das autarquias, seja através de encomendas de serviços ou de parcerias", assumiu o reitor, que defendeu "a continuidade da aposta da UA nos cursos tecnológicos que vão ao encontro das necessidades das empresas e dos empresários".
Este aspecto foi realçado por António Nogueira Leite. Falando a título individual e não como administrador da Caixa Geral de Depósitos, o economista aveirense criticou "os maus investimentos feitos pelos últimos governos" e lembrou que, face à escassez de recursos, espera que "sejam as empresas produtivas e os bons projectos públicos a terem acesso ao financiamento". "Está na hora de tomar as decisões difíceis. A manta cada vez é mais curta para tapar todas as necessidades. O futuro de Aveiro depende do que em Lisboa for decidido", concluiu.
Também Nogueira de Leite acredita que o distrito, até por ter economicamente algumas das características dos países emergentes, poderá ser dos primeiros a contornar a crise.
Trezentas pessoas assistiram, no Centro de Congressos de Aveiro, ao ciclo de Conferências "A Soma das Partes-As economias regionais como factor de desenvolvimento", uma iniciativa da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), em colaboração com a TSF e JN. As conferências da OTOC vão percorrer todas as capitais do distrito, para além da Madeira e dos Açores.