Inglaterra
Brasileiro a viver em Portugal desespera após detenção por transporte de migrantes em camião
Lucas Araújo vive em Santa Iria de Azóia e é camionista desde os 21 anos
Foto Dr
Um motorista de pesados natural de Goiânia (Brasil), mas a residir em Lisboa, está preso em Bristol, Inglaterra, desde 1 de janeiro, após ter sido apanhado pelas autoridades locais com quatro imigrantes ilegais no interior do camião que conduzia. Ao JN, a família garante que Lucas Araújo está "desesperado" e que é "inocente" e acusa a Doctrans, que pertence ao grupo espanhol Primafrio, de ter abandonado o motorista.
Isabele Meireles está grávida de seis meses e há quase um mês não tem notícias do marido, Lucas Araújo, de 24 anos, que trabalha como camionista internacional pela Primafrio.
"Ele saiu de viagem, salvo erro, a 27 de dezembro. Passou por Espanha, França e tinha como destino final Inglaterra. No dia 1 de janeiro, ele fez uma chamada da esquadra, em Bristol, para o pai dizendo que tinham encontrado clandestinos no reboque dele, na carga. Eles culparam-no por isso. Desde então nunca mais soubemos dele", começa por contar ao JN.
O casal vive em Santa Iria de Azóia, em Loures. Lucas trabalhou como camionista um ano e meio na Primafrio. Depois saiu e agora tinha regressado novamente à empresa. "Esta era a primeira viagem desde que voltou", assegura a mulher, que deixa críticas à empresa pela forma como lidou com a situação.
"Eles nunca me ligaram. O pai dele também trabalha na Primafrio. Só me disse que havia um advogado no caso e que estavam cuidando. No dia 5, um companheiro do Lucas seguiu viagem com o camião dele. Depois disso, a empresa nunca mais nos disse nada", alega.
"Ele é inocente. Ele já fez várias viagens para Inglaterra e isso nunca lhe tinha acontecido. E ligou-nos desesperado. Isso realmente acontece muito daquele lado. O Porto de Calais é uma confusão, com migrantes que batem em camionistas, em que entram escondidos no camião. Quando as pessoas fazem a travessia de barco para Inglaterra, passam pelo raio-x e eles conseguem ver os imigrantes. No caso do Lucas foi pelo Eurotúnel, onde não há raio-x. Por isso ele foi responsabilizado em Inglaterra", explica.
Ao JN, o pai de Lucas, Ismael Araújo, que se encontra em Inglaterra e que trabalha no mesmo grupo, mas noutra empresa, garante que o processo está a ser muito burocrático, estando a ser acompanhado por uma advogada oficiosa. "Para ligar para ele, é a maior burocracia. Visitá-lo é praticamente impossível. Hoje fui ter com a advogada e creditei 30 libras na conta dele da prisão para ele conseguir ligar-me", conta. "A empresa deixou-me na mão", lamenta.
A 1 de fevereiro Lucas Araújo será presente a tribunal. Até lá, manter-se-á detido.
O JN tentou contactar telefonicamente esta manhã a empresa com sede em Vila Nova da Rainha (Azambuja) para obter esclarecimentos sobre o caso, mas sem sucesso.
Contactado pelo JN, o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Londres, informou que "está à disposição para prestar assistência cabível ao brasileiro e aos seus familiares, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local".