Judiciária

Família de Castelo Branco escravizava mulher há 23 anos

Lídia Barata

PJ deteve três pessoas da mesma família, indiciados por tráfico de pessoas e escravidão

Foto Arquivo

Um casal, de 52 e 53 anos, e o seu filho, de 35, foram detidos e presentes a primeiro interrogatório judicial, na quinta-feira, 30 de março, tendo ficado em prisão preventiva, por serem suspeitos dos crimes de "tráfico de pessoas, para fins de exploração laboral e escravidão", informou ontem a Polícia Judiciária (PJ). Uma mulher terá vivido em situação de escravidão durante 23 anos, período em que teve um filho, hoje com 9 anos, que terá crescido também sob controlo dos suspeitos.

A investigação da PJ começou em novembro do ano passado, quando aquela mulher, de 36 anos, conseguiu fugir dos suspeitos e pediu ajuda à GNR. A vítima, "escravizada pelo grupo há 23 anos, vivia na cidade de Castelo Branco, num anexo da habitação dos suspeitos, em condições desumanas", informou a Judiciária, que a resgatou juntamente com o filho menor.

A PJ também diz que aquela mulher, "além de trabalhar sem qualquer tipo de remuneração em várias campanhas agrícolas, era obrigada a entregar as prestações sociais que mensalmente recebia", sustentou a PJ em comunicado.

A situação de cativeiro que se prolongou, sabe-se agora, por 23 anos não era totalmente desconhecida por vizinhos dos detidos, mas o medo e a falta de elementos mais concretos explicarão o silenciamento do caso. O chefe de família detido, de 52 anos, é conhecido na cidade como uma espécie de líder da comunidade a que pertence.

As detenções foram feitas pela Diretoria do Centro da PJ, em cumprimento de mandados de detenção emitidos pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Castelo Branco.

Em comunicado, a PJ explicou que "os arguidos, de forma concertada e organizada, desde há vários anos a esta parte, vinham recrutando pessoas fragilizadas, com carências económicas e em processos de exclusão social, que ludibriavam com promessas de emprego bem remunerado, em explorações agrícolas em Espanha e Portugal". "Intermediavam junto de vários empregadores o fornecimento deste tipo de mão-de-obra, mantendo as vítimas controladas sob ameaça e coação, ficando na posse da quase totalidade dos proventos auferidos, através da apropriação do dinheiro que os empresários lhe entregavam para pagamento dos salários", relata.

A PJ avançou que, no que se refere à vítima e ao filho, "na vertente do acolhimento e estabilização emocional, a investigação contou ainda com a colaboração das Equipas Multidisciplinares Especializadas de Assistência a Vítimas de Tráfico de Seres Humanos".

A operação desenvolvida pela Polícia Judiciária que culminou na detenção desta família e na sua apresentação a primeiro interrogatório judicial, na tarde de quinta-feira, dia 31, contou com a participação de valências dos comandos distritais da PSP de Castelo Branco e Portalegre, nomeadamente na localização e detenção dos suspeitos e na recolha elementos probatórios adicionais.