Só mais de dois meses depois de Rui Pinto ter, alegadamente, começado a invadir o sistema informático do Sporting é que o clube leonino conseguiu travar os ataques do hacker. Para tal, teve de "barrar" o acesso de todos os endereços de IP da Hungria, adiantou esta quarta-feira, em tribunal, José Amador.
Desde 4 de setembro de 2020 que Rui Pinto, de 31 anos, está a ser julgado em Lisboa por um total de 90 crimes, entre os quais um de sabotagem informática pelo ataque ao Sporting, em 2015. O gaiense terá ainda acedido à caixa de correio eletrónico de vários elementos dos Leões, incluindo Bruno de Carvalho, à data presidente do clube.
De acordo com José Amador, inquirido como testemunha pela terceira sessão consecutiva, o arguido terá, além de ter acedido aos e-mails, executado diversos comandos que chegaram a deitar o sistema abaixo. O método não foi utilizado em qualquer dos restantes ataques discriminados no inquérito, nomeadamente à Doyen Sports.
"O porquê de isso ter sido feito, não saberia responder", afirmou o inspetor, admitindo que os moldes do ataque poderiam pôr em causa o suposto objetivo do hacker autointulado denunciante de extrair informação do servidor leonino sem ser detetado.
Numa sessão em que a procuradora do Ministério Público (MP) tem tentado, com as suas perguntas, associar os ataques descritos no processo e os documentos divulgados na plataforma Football Leaks aos IP dos aparelhos que seriam utilizados por Rui Pinto - dois dos quais húngaros -, Amador enumerou ainda o modo como o gaiense terá conseguido invadir o sistema da Doyen Sports.
Entre outras ações, o arguido terá ludibriado, em 2015, o diretor-geral da Doyen Sports, Nélio Lucas, com um e-mail - aparente mas falsamente proveniente de Antero Henrique, ex-dirigente do F. C. Porto - para descarregar ficheiros, de modo a ter acesso às suas credenciais. Lucas apresentaria posteriormente queixa contra Rui Pinto por tentativa de extorsão, crime pelo qual o hacker está igualmente a ser julgado neste processo, em coautoria com o advogado Aníbal Pinto.
Esta quarta-feira, o inspetor confirmou, no essencial, a versão que consta da acusação do MP, na qual é reproduzido um e-mail do arguido a propor, sob o pseudónimo de Artem Lubozov, que o dirigente da Doyen pague entre 500 mil e um milhão de euros para que deixasse de ser publicada no Football Leaks documentação relacionada com o fundo.
Segundo Amador - que fez o levantamento de todas as publicações na plataforma -, houve efetivamente uma paragem das publicações durante as negociações, mas quando o "entendimento falhou" os ficheiros entretanto desaparecidos foram "restaurados". "Há um processo de aceleração da divulgação", afirmou.
A inquirição continua esta quarta-feira à tarde.