
Bruno de Carvalho
Pedro Rocha / Global Imagens
Arrependido Paulo Silva, que garantiu ter corrompido árbitros de andebol e jogadores de futebol por conta do Sporting, acusa ex-presidente leonino de ser o cérebro do esquema.
O ex-presidente do Sporting está a ser investigado por corrupção desportiva no âmbito do processo Cashball. Paulo Silva, o arrependido que denunciou um alegado esquema de viciação de resultados de andebol e da Liga de futebol, com compra de árbitros e futebolistas, apontou recentemente Bruno de Carvalho como sendo o cérebro do plano de corrupção.
O caso que levou à detenção de André Geraldes (braço-direito de Bruno de Carvalho), de Gonçalo Rodrigues, funcionário do Sporting, do empresário João Gonçalves e do próprio Paulo Silva tem agora um novo suspeito na mira. De acordo com informações recolhidas pelo JN, o corruptor confesso que, em março do ano passado, se deslocou ao Departamento de Investigação e Ação Penal do Porto para denunciar o caso e entregar mensagens de WhatsApp que atestam, no seu entender, a corrupção, implicou diretamente Bruno de Carvalho.
Embora não tenha contactado com o dirigente, o arrependido terá garantido ao Ministério Público que as ordens de corrupção e os envelopes ostentando o logótipo do Sporting contendo as alegadas luvas vinham de Bruno de Carvalho. Explicou que recebia do empresário de futebol João Gonçalves os envelopes supostamente vindos de Rodrigues e Geraldes e garantiu que este e João Gonçalves lhe confessaram que o cérebro era o ex-presidente, pois nada acontecia sem o seu aval.
Recorde-se que, aquando das buscas, em maio do ano passado, a Polícia Judiciária do Porto encontrou mais de 60 mil euros em dinheiro vivo, num compartimento fechado à chave, no gabinete de Geraldes, na Academia de Alcochete. Na mesma gaveta deste dirigente, que está proibido de falar com Bruno de Carvalho e de exercer funções no clube, os inspetores encontraram envelopes com o logótipo do Sporting, semelhantes aos que o arrependido Paulo Silva garante ter recebido para pagar a árbitros de andebol e jogadores de futebol.
Jogadores aliciados
Para já, os suspeitos estão indiciados apenas por alegados crimes de corrupção, nos quais Paulo Silva garantiu ter tido intervenção direta. Ou seja, que abordou os jogadores. Assegurou ter aliciado João Aurélio, para que este desse "espaço ao Bast Dost" na goleada do Sporting frente ao Vitória de Guimarães, a 19 agosto do ano passado.
O MP também reteve como crime de corrupção as alegadas abordagens a Pedro Trigueira, no jogo entre os leões e o Setúbal, de 11 de agosto de 2017, a Rúben Lima, do Moreirense, relativamente ao jogo de 23 de setembro de 2017, e a Bruno Nascimento, na partida com o Feirense, de 8 de setembro do mesmo ano. Nestes jogos Silva garantiu ter tido intervenção direta. As autoridades não descartam a hipótese de as referências aos atletas terem sido abusivas por parte de Silva, que não contactava diretamente André Geraldes, à época braço-direito de Bruno de Carvalho no Sporting e agora diretor-geral da SAD do Farense. O JN tentou contactar José Preto, o advogado de Bruno de Carvalho, para ter uma reação, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.
25 mil euros
Nas conversas de WhatsApp entre o arrependido Paulo Silva e João Gonçalves, empresário de futebol e suposto intermediário do clube de Alvalade, os dois homens falam de pagamentos de luvas a futebolistas que vão de três mil a 25 mil euros.
Medidas de coação
Todos os arguidos ficaram proibidos de contactar entre si e de exercer atividades relacionadas com o desporto, incluindo o funcionário do Sporting, Gonçalo Rodrigues, que já tinha voluntariamente suspendido funções no clube. Proibição de falar com a Comunicação Social foi a medida de coação especialmente aplicada ao alegado "arrependido", Paulo Silva. André Geraldes teve de prestar uma caução de 60 mil euros.
Críticas a investigação
Segundo informações recolhidas pelo JN, os arguidos denunciados por Paulo Silva criticam o facto de o inquérito se basear apenas em declarações do "arrependido" e nas mensagens de WhatsApp, que poderão ter sido manipuladas para incriminar os dirigentes leoninos.
Natural de Moçambique, Bruno de Carvalho começou, em 2013, a cumprir o sonho antigo de presidir ao Sporting, mas isso não tardou a tornar-se um pesadelo, quando foi obrigado a deixar o cargo por vontade dos sócios, em junho passado. Antes de chegar à cadeira do poder, foi membro das claques Juve Leo e Torcida Verde, onde começou a cultivar o "fanatismo" pelo clube, e dirigente no hóquei em patins e patinagem.
