Os dias são de pandemia, mas, em Aveiro, são também de festa. Com muitas restrições, os festejos em honra de S.Gonçalinho, padroeiro do Bairro da Beira Mar, estão a cumprir-se. Este domingo, a procissão levou o santo a casa dos fiéis e houve muitos que se emocionaram à sua passagem.
A Direção-Geral da Saúde deu aval e, por isso, os festejos em honra de S. Gonçalinho estão a acontecer, desde quinta-feira. Mesmo que sejam, em tudo, diferentes do habitual. Este domingo, ao final da manhã, a imagem do santo saiu à rua, numa carrinha de caixa aberta, e percorreu as ruas do bairro da Beira-Mar, durante cerca de uma hora.
Sozinha à janela, com uma colcha a pender para a rua, Silvina Couto assistiu à breve passagem da pequena procissão, que apenas era acompanhada por uma banda e por alguns mordomos da festa. "É muito emocionante. Este ano, a festa é muito diferente, mas é, na mesma, um momento emotivo para mim", deixou escapar, ao JN, a moradora da Beira-Mar, de 66 anos, sem conter as lágrimas e sem disfarçar a voz embargada.
Algumas casas ao lado, também sozinha, Lurdes Sequeira, de 88 anos, abriu a porta para ver o "menino", nome pelo qual o santo é carinhosamente apelidado pelas gentes do bairro. Todos os anos vai à capela, mas este ano, "devido à pandemia", resolveu não ir. "Foi bom terem feito a procissão, porque há pessoas que não podem ir à igreja. Sou muito devota de S. Gonçalinho, nem sei explicar o que significa para mim", contou Lurdes.
À chegada à capela, o andor do santo, devidamente enfeitado com garbosas flores, como manda a tradição, foi colocado numa tenda montada, por estes dias, no largo da capela. E onde foi celebrada, logo depois, a eucaristia, presidida por D. António Moiteiro, bispo de Aveiro. Não sem antes a banda fazer ecoar a Marcha de S. Gonçalinho, que fez os presentes cantar alto - e até dançar - "neste dia de festança, p'ra ti vai nosso carinho".
Duas toneladas de cavacas
A "festança", desta vez, foi diferente. Faltaram as intermináveis filas dos fiéis que, todos os anos, fazem questão de subir ao cimo da capela, para cumprir promessas ao atirar cavacas - os doces duros, cobertos de açúcar, típicos da festa .
Faltaram as centenas de pessoas que aguardam lá em baixo, no largo, para as apanhar, munidas das mais variadas engenhocas, desde redes camaroeiras a guarda-chuvas virados ao contrário. Faltaram os brindes com Licor de Alguidar, a regar reencontros de amigos. Assim como as longas noites de concertos.
Contudo, o que não faltou foi a devoção pelo santo rapioqueiro. Prova disso é que, mesmo num ano incomum, a mordomia vendeu cerca de duas toneladas de cavacas - habitualmente, vende 10 -, esgotando os doces que tinha encomendado.
Foi permitida, também, a presença de alguns vendedores ambulantes nas ruas, que tiveram alguma procura durante a manhã deste domingo.
A mordomia reinventou a festa. E fez questão que os fiéis sentissem a alegria de S. Gonçalinho em suas casas, com a transmissão online de alguns momentos, inclusive um festival de música, via Facebook, onde participaram artistas e coletividades locais. "Dançar com velhas gaiteiras uma dança divinal", como se canta na marcha, que é hino das celebrações, fica para outro ano.